Até sábado, o Parque da Bela Vista acolhe nomes como FKA Twigs, Scissor Sisters, Jorja Smith e Damiano David. Festival começou esta quinta-feira, com Pet Shop Boys e The Flaming Lips como cabeças de cartaz.
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Portas abertas: a quarta edição do MEO Kalorama despontou esta quinta-feira, feriado, cantada em português. Com festivaleiros a entrarem desde as 16 horas no recinto do Parque da Bela Vista, em Lisboa, os primeiros nomes a atuar nos maiores palcos fizeram-no a representar a lusofonia, e num reflexo também da diversidade de géneros musicais este ano patente, talvez mais até do que nunca, no cartaz.
Com as portas a abrirem todos os dias às 16 horas e a fecharem às 3 horas, em cada um dos três palcos a música começou cedo: no principal, ou MEO, as honras ficaram para os Kriativu Jam: artistas locais com curadoria do projeto Chelas é o Sítio de Sam The Kid, mescla de sons e sensações de Cabo Verde e Lisboa.
Logo de seguida, David Bruno, fenómeno de Gaia que esteve ainda há dias no Primavera Sound Porto, pelo segundo ano seguido: em 2024 foi com o seu duo, Conjunto Corona, um ano depois corre, a solo, alguns dos maiores eventos do país.
À Bela Vista, o cantor, conhecido pelo seu humor, pelo estilo único, com tanto de travesso como de subversivo, levou temas dos vários discos, incluindo o mais recente, “Paradise village”.
Nas músicas e letras, muita cultura popular, focada sobretudo no norte, versos sobre o quotidiano, festas, comida, portugalidade, pessoas, mesclas de línguas e sotaques, rimas com “praliné” e “Ferrero Rocher”, dedicatórias à mulher, ao amor e às festas de espuma: um pacote de originalidade inegável, embrulhado num conjunto divertido, inconvencional, completo pela personagem do guitarrista Marquito de Barcelos. “Já ganhei o dia”, dizia, no meio do público, a primeira espécie de ajuntamento do festival, ladeado do convidado Mike El Nite; “ganhámos todos”, acrescentava, perante a adesão de fãs a gritar “Inatel”; ou “Gondomar”, ou “inox”. Algures entre Fun Loving Criminals à portuguesa e música kitsch dos anos 80, mesmo entre os mais céticos, a rendição ao espírito de Bruno era certa no final.
No palco secundário, ou San Miguel, Capital da Bulgaria, nome artístico por detrás da voz doce de Sofia Reis, acolheu os primeiros visitantes, seguida por Cara de Espelho, a banda encontro de alguns dos nomes que marcaram a música portuguesa nos últimos anos, como Deolinda, Ornatos Violeta, Gaiteiros de Lisboa, A Naifa, Humanos.
Com palavras e composições de Pedro da Silva Martins como ponto de partida, Carlos Guerreiro (Gaiteiros de Lisboa, José Afonso, Fausto), Nuno Prata (Ornatos Violeta), Luís J. Martins (Deolinda, António Zambujo) e Sérgio Nascimento (Sérgio Godinho, David Fonseca, Humanos, Deolinda) Maria Antónia Mendes (A Naifa) na voz, voltaram a cantar intervenção e também a portugalidade e a tradição, com singles do primeiro disco, homónimo, como “Corridinho português” e “Político antropófago”; ou novos, os acabados de sair “O que esta gente quer” e “Elefante no hemiciclo”. “Boa tarde, Lisboa, nós somos os Cara de Espelho e estamos aqui para vos refletir”, dizia a vocalista, a voz deste reflexo de Portugal, dos impostos, da política, das pessoas.
Muitos para Pet Shop Boys
As horas inaugurais do Kalorama 2025 foram marcadas por uma entrada de público sem grandes entupimentos ou filas, muitos possivelmente com receio do final de tarde de um dia que, depois de acordar com chuva forte, terminou com um calor quase opressivo. Este é também um ano em que o Kalorama veio com mudanças - segundo a organização, temporárias e eventualmente reversíveis, na próxima edição. O conceito do evento que, nos três primeiros anos, assentava muito no “fim de festa”, a despedida, o último do rol de festivais que povoam o país entre maio e agosto, inverteu-se: alegando dificuldades na contratação de bandas mas também um ajuste ao público, a organização mudou para junho, passando-o, de um dos últimos, para um dos primeiros.
Para os festivaleiros deste ano, ouvidos pelo JN, a opinião face à mudança é mista. Vera, de Lisboa, acredita ser uma altura “já muito ocupada”, e exemplifica: “é a praia, a Feira do Livro, os arraiais, os feriados…”. Veio, no entanto, para ver Cara de Espelho, Father John Misty e Pet Shop Boys. É uma estreia, para ela, este festival.
Já Isabel, de Sintra, defende que as datas são melhores, puxam mais a eventos do género, e deslocou-se à Bela Vista também e sobretudo por Neil Tennant e Chris Lowe.
Até sábado, há muita música para ouvir na Bela Vista: ainda hoje, Sevdaliza, Pet Shop Boys, Flaming Lips e Father John Misty; sexta-feira, FKA Twigs, Scissor Sisters e Róisín Murphy, entre outros; e, no sábado, Noga Erez, BadBadNotGood, Royel Otis, Jorja Smith e Damiano David.