O encerramento, em meados do mês passado, da filial nacional da editora italo-espanhola Esfera dos Livros foi só o mais recente exemplo de uma realidade que teima em não sofrer alterações significativas: a dificuldade de implantação no país dos grandes grupos editoriais estrangeiros.
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Num mercado com feições de duopólio, dominado pelo eixo Leya e Grupo Porto Editora/Bertrand, as quatro principais chancelas internacionais que operam em Portugal (Penguin Random House, Planeta, Harper Collins e Esfera dos Livros) mal ultrapassam os 5% de quota de mercado, embora, na maioria dos casos, já estejam a operar no país há mais de uma década.
Destas, a mais consolidada é a Penguin Random House, poderoso grupo anglossaxónico que alberga chancelas como a Companhia das Letras, Alfaguara ou Suma de Letras. A sua quota no mercado editorial ascende aos 3%, mas a sua performance na ficção e na literatura infantil é ligeiramente superior (4%).
Sem traçar metas ou prazos, Clara Capitão, diretora geral e editorial da subsidiária portuguesa, afirma que existe "uma estratégia de crescimento continuado e sustentável".
Se, num contexto amplo, "um país pequeno e com baixos índices de leitura" como Portugal pode parecer desinteressante para o maior grupo editorial do planeta, a verdade é que existem "nuances" que conferem a este mercado uma importância adicional, a começar pelo facto de "ser uma das 10 línguas mais faladas no Mundo". "É um desafio e uma missão", resume Clara Capitão, que ressalva o objetivo de "sedimentar a presença no panorama cultural do país". Até ao final do ano a editora planeia publicar novos livros de João Tordo, Afonso Cruz, Manuel Vilas, Julian Fuks e Jonathan Safran Foer.
Editar à distância
Líder em Espanha e na América Latina, além de estar no "top 5" no Brasil, a Planeta Portugal ocupa um lugar bem mais modesto no mercado português.
Uma realidade que José María Calvín, diretor-geral da filial lusa, afirma querer mudar a breve trecho, tendo feito para isso uma reestruturação e um reforço da equipa. "O objetivo é criar um eixo estratégico entre as diferentes filiais, aproveitando o "know how" e as sinergias entre elas", explica Calvín, convicto de que "Portugal é um mercado em crescimento". Dos géneros a editar, o responsável destaca "a Crítica, dedicada à História nacional e internacional, ensaio e grandes biografias".
A reduzida expressão das editoras estrangeiras não se deve apenas à resiliência dos "players" nacionais, mas também à ausência de um investimento realmente forte. Prova disso mesmo é que, quer a Esfera dos Livros quer a Harper Collins, operam em Portugal a partir de Espanha, com todas as desvantagens que daí possam advir.
Contactada pelo "Jornal de Notícias", Teresa Manzario, gestora da Esfera dos Livros, afirma que "a decisão estratégica" de gerir a atividade editorial em Portugal a partir do país vizinho "não significa de todo" o fim da presença em Portugal. "Continuamos a operar como até aqui e, para isso, utilizaremos todos os recursos humanos e económicos da nossa editora em Espanha. Em áreas como a distribuição e comercialização de livros, iremos apoiar-nos em empresas portuguesas", afiançou a gestora.
Também a Harper Collins, segundo apurou o JN, prevê "a médio prazo" reforçar a sua oferta editorial, que de momento assenta em larga medida nos livros do bestseller de espionagem Daniel Silva.
Leya foi detida por fundo americano durante uma década
Até julho de 2018, e ao longo de uma década, o Grupo Leya esteve nas mãos do fundo norte-americano Trilantic Capital Partners. Há um ano, os gestores Isaías Gomes Teixeira, Tiago Morais Sarmento e Pedro Marques Guedes compraram 50,1% da empresa e o fundo de investimento Atena ficou com os restantes 49,9%.