De portas abertas, o Mestre António Bessa recebe todos os curiosos que procuram a sua arte. Entre José Saramago, José Tolentino Mendonça, Mário Soares e a despedida de D. António Francisco dos Santos e o Padre Adriano Pereira, há um novo habitante nas paredes do atelier: o retrato de Rui Reininho.
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O encontro das duas almas artísticas surgiu através do projeto “O ofício da solitude”, uma mostra que reúne obras de dez artistas plásticos portugueses, com curadoria de Fernando Augusto Rocha. O programa resultou numa “espécie de podcast com imagem”, com um conjunto de entrevistas conduzidas pelo músico Rui Reininho e que dão vida à arte. Numa das suas visitas pelos atelieres dos artistas, estava a galeria de António Bessa, tendo rapidamente crescido uma “amizade espontânea”, com o retratista a manifestar a vontade de pintar Rui Reininho.
Emocionado e orgulhoso, Rui Reininho diz sentir-se "eternizado neste ato muito antigo da cultura”, confessando "ser uma benesse muito grande ter tido as portas abertas, ver os métodos, cheirar as tintas, principalmente para um curioso como eu que se expressa de maneira diferente, com a voz”.
“Não só é uma personagem com um coração muito grande, mas também com umas mãos extraordinárias”, é assim que o músico descreve António Bessa. Reininho acrescenta que o Mestre “tem uma técnica muito singular, é preciso uma alma muito grande para se aproximar destas figuras que retrata e dar-lhes um cunho pessoal”.
“Numa semana a obra ficou pronta”
A criar desde manhã à noite, o pintor diz que a cada segundo “mando tintas para a tela e tenho de ver qualquer coisa lá para não ficar desapontado. Por isso, numa semana a obra ficou pronta”.
O amor que coloca em cada um dos seus trabalhos é o mesmo, mas o som a que os acompanha vai mudando conforme a obra. Rui Reininho foi pintado ao som dos GNR – banda portuguesa de pop rock na qual Reininho é vocalista -, o que não é por acaso, revelando que “adapto sempre o ambiente a quem estou a pintar e pergunto sempre de que musicas gostam”.
António Bessa confessa que Rui Reininho é o primeiro nome da música que passou pelo seu cavalete e que “nunca pensei ter uma amizade espontânea uma figura que sempre fez parte do meu imaginário”.
O Mestre explica ainda que o benefício de ser “um artista de porta aberta” é que muitas vezes as ideias para as suas obras “vêm do lado de fora”. Quando falha a criatividade, há sempre um curioso que entra para ver os seus trabalhos e traz ideias que confessa que “nunca me passaram pela cabeça”.
Forte ligação ao JN
“O JN é um jornal que me acompanha desde sempre, na minha infância ia para o café com o meu avô e liamos o jornal. Achei por bem nos trabalhos que faço, quando existem livros, que os retratos levem consigo o JN, é uma forma de levarem também a cidade do Porto”, revelou o pintor.
António Bessa já pintou inúmeras figuras públicas, com destaque para o Papa Francisco, Marcelo Rebelo de Sousa, Pinto da Costa, Volodymyr Zelensky e outros. A inauguração pública do retrato de Rui Reininho acontecerá, sem data definida, na sede da Banda Filarmónica de Leça da Palmeira, em Matosinhos.