Nova Iorque é a cidade a que todos já foram, mesmo (ou sobretudo?) os que nunca lá puseram os pés.
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Entre a urbe real - reduto supremo da desumanidade, asseguram os seus detractores - e a imaginária, que nos chega através das obras de um número quase infindável de criadores, é irrelevante saber onde reside a verdade, pois todas essas visões apenas contribuem para o fascínio que rodeia a capital não oficiosa no planeta.
Italo Calvino não estaria certamente a pensar em Nova Iorque quando escreveu "As cidades invisíveis", mas há algo nos seus traços oníricos e impossíveis que nos remete para as urbes descritas por Marco Polo ao embevecido Kublai Khan. Mas a cidade para onde confluíram gentes de todas as paragens é muito mais do que o local onde brotam arranha-céus dos mais improváveis sítios, como nos asseguram cineastas, músicos, escritores e artistas plásticos de todas as nacionalidades.
Mesmo com todas as incursões artísticas de que tem sido alvo ao longo das décadas - sobretudo após o 11 de Setembro, que deu azo a dezenas de obras de pendor sociológico, quase todas falhadas -, Nova Iorque permanece um mistério. São os que nela habitam desde sempre os primeiros a traduzir a impossibilidade de acedermos ao seu núcleo mais restrito.
É o caso de Paul Auster. Nascido na vizinha Newark, o romancista elege Nova Iorque, com frequência inusitada, como protagonista dos seus livros - de "A trilogia de Nova Iorque" ao mais recente "As loucuras de Brooklyn" - e nem por isso sente ter esgotado o tema.
O mesmo acontece com Woody Allen, que, após ter filmado nos últimos anos em Londres e Barcelona, já anunciou o regresso à sua cidade.