Autora estreia esta sexta-feira no Festival Internacional de Teatro da ACERT, em Tondela, a sua criação “Carte blanche”. “Encontrei durante o espetáculo muitas relações com o conflito de Israel com a Palestina”, diz ao JN.
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Michal Svironi sobe esta sexta-feira ao palco, no terceiro dia do Festival Internacional de Teatro da ACERT, em Tondela, com o espetáculo “Carte blanche”. É a primeira vez que a artista israelita traz um espetáculo a Portugal, onde começará por contar a história da família.
“Vou falar sobre separações e sobre a forma como não estamos preparados para elas”, explicou ao JN Michal Svironi. A artista afirma que este “é um espetáculo especial”. “É uma nova linguagem que eu e o Johnny Tal [cocriador] inventamos e que trabalhamos ao longo de dois anos”.
“Sempre quis combinar o teatro e a pintura. Tentei muitas vezes e, no último ano, pintei para mim mesma sem ninguém saber”, confessa a criadora.
“Acredito que as palavras não são suficientes e que a mente humana precisa de imagens visuais e não apenas de explicações, mas também de poesia. Com a pintura podemos criar poesia, muitos símbolos e imagens que ficam na mente, antes de esquecermos as palavras”, reconhece. Michal Svironi conta que, durante o espetáculo, vai criando personagens que a marcaram. “No fim, o quadro está muito sujo de tinta”, sorri.
“Somos todos vítimas”
A artista aceitou falar sobre o conflito no Médio Oriente e confessa que “tem sido terrível”. “O mundo não nos deu muito tempo para sofrer e todos se voltaram contra nós muito rapidamente”, lamenta Svironi.
A criadora estava em Paris, com o espetáculo “Carte blanche”, no dia 7 de outubro, quando o conflito israelo-palestino (re)começou. “Tínhamos 10 espetáculos agendados e subi ao palco todas as noites. Era para ser uma grande celebração e transformou-se num momento horrível”, recorda.
A artista “encontrou durante o espetáculo muitas relações com o conflito”. “O papel ia ficando pintado de vermelho sangue e as pessoas a morrer”, explica.
A criadora, com mais de 20 anos de carreira, espera reencontrar a família na próxima semana. “Sei que o aeroporto está cheio de fotos de pessoas, de crianças, de bebés e será a primeira vez que a minha filha vai ver tudo isso. Só tenho pensado o que lhe vou dizer...”.
Michal Svironi lamentou, ainda, todas as vítimas de Gaza, que “vivem um pesadelo que dura há muitos anos”. “Não acho que a culpa seja de Israel, são muitos os países envolvidos e também nós e as pessoas árabes precisamos de entender isso. Israel é apenas um país pequeno. Somos vítimas, assim como eles. Somos todos vítimas nesta história”.
Outros destaques no FINTA
No FINTA, há ainda oportunidade para ver “Vida”, de Javier Aranda, espetáculo de marionetas em que o espanhol cria personagens que surgem de uma cesta de costura.
No último dia, destaque para a estreia de “Caio do céu”, da companhia brasileira de Solos & Bem Acompanhados, que homenageia o jornalista, dramaturgo e escritor Caio Fernando Abreu.