Entre álbuns e EP, "Beware of the monkeys" é já o décimo trabalho discográfico do jovem músico MIKE.
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Vinte e quatro anos de idade, oito de carreira e dez trabalhos lançados. Se há formas de provar que a consistência dá frutos, MIKE, nome artístico de Michael Bonema, é uma delas.
Para terminar o ano de 2022 em grande, o rapper e produtor norte-americano deu a conhecer "Beware of the monkey", um álbum reflexo do amadurecimento técnico e do crescimento como artista de MIKE.
Tal como tem sido hábito, Michael Bonema apresenta-nos um fervilhar de emoções, desde a mais radiante felicidade à mais profunda mágoa da perda. Agora, com um novo fator: a dose certa de confiança. "Esta é a minha única oportunidade de vos mostrar que sou o melhor rapper do Mundo", diz-nos logo na segunda faixa, "As 4 me".
Uma confiança merecida, se avaliarmos o profissionalismo com que MIKE apresenta um álbum com 13 faixas recheadas de samples escolhidos a dedo e trabalhados com a maior das mestrias. Além de Bonema ser um rapper excecional, com as rimas e o flow sempre acertados, é também o produtor dos próprios trabalhos - todos integralmente assinados por si, das letras à produção (esta última sob o pseudónimo artístico de djblackpower, nome com o qual já lançou também trabalhos instrumentais).
Com mais colaborações do que o anterior álbum "Disco!" (2021), em "Beware of the monkey", MIKE traz consigo Jadasea, Klein, Sister Nancy e King Carter, numa clara exaltação das vozes negras. Uma temática, aliás, bastante presente nos trabalhos de MIKE e que no novo longa-duração não podia faltar.
Fica para assinalar, também, a construção narrativa de todo o álbum, que nos leva numa viagem imersiva com o artista sediado em Nova Iorque. As músicas parecem encadear-se, com letras que se complementam e instrumentais que se ligam de faixa para faixa. Uma chamada telefónica da irmã de Michael Bonema fecha "Ipari Park" para, logo de seguida, continuar no arranque de "Swoosh 23". Todo o álbum é um carrossel contínuo de sonoridades jazz, soul e R&B, que nos traz uma nostalgia típica do hip-hop do anos 1980.