Líder e vocalista dos Waterboys regressa esta semana aos palcos portugueses para espetáculos em Lisboa, Porto e Estoril.
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Dez meses após a atuação no North Festival, os Waterboys regressam a Portugal. Hoje no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, sexta-feira no Coliseu do Porto e sábado no Casino Estoril, a banda escocesa traz os seus êxitos de sempre, mas sem nunca perder de vista material novo. Nesta entrevista ao JN, o vocalista Mike Scott, agora com 64 anos, faz uma revisão da carreira, fala de géneros, de tops e das bandas que já influenciou - sem surpresa: "War on Drugs, com certeza".
Quarenta anos depois, os Waterboys ainda estão por cá. Essa longevidade deve-se sobretudo a quê?
Não acho estranho ou incomum que os Waterboys, ou eu, ainda existam depois de muitos anos. Não é raro na minha geração de músicos de rock"n"roll. Se tivesse parado de fazer música, isso sim seria extraordinário!
O grupo já teve várias vidas. Essas reinvenções nascem de alguma vontade em particular?
Não, nada. Prefiro não perder tempo a pensar na passagem dos anos. A mudança acontece de maneira natural. Nunca consegui resistir-lhe. E quando comecei os Waterboys, em 1983, já tinha como objetivo que a formação mudasse muito.
É possível ainda, com uma carreira tão longa, apontar caminhos diferentes?
Continuo a tentar fazer coisas que são novas para mim; formas de escrever, de tocar, de estruturar canções. É como se estivesse sempre no encalço de mim mesmo. Agora, é verdade que já não sou um membro da geração vanguardista de músicos, mas fico de ouvido atento ao que eles fazem. Sim, é possível para um artista da minha idade [64 anos] fazer algo de novo.
Da mesma maneira que os Waterboys já mudaram muitas vezes, também o Mike já viveu em sítios muito diferentes. A vida é um eterno recomeço?
Acho que não. É, sim, um eterno crescimento.
Já abraçaram muitos géneros. Qual o género a que chama mesmo seu?
Sou um músico de rock"n"roll com voz áspera e canto com um senso melódico de blues. E espero cantar com alma, emoção verdadeira. Como disse Walt Whitman, eu contenho multidões.
Há algo em si que não tem mudado nos últimos anos: o chapéu de cowboy. O que representa para si?
[risos] Usei um em 1983 e só mais de 30 anos depois, em Nashville, comprei um Stetson preto. O chapéu de cowboy representa para mim o estilo e a aparência de que gosto e o facto de não ligar nada a pensamentos convencionais.
É o único membro da formação original que se mantém. Mike Scott e os Waterboys são uma e única entidade?
Não. É preciso muito para ser um Waterboy e muitas pessoas conseguiram.
Em que bandas de hoje encontra influências dos Waterboys?
War on Drugs, com certeza.
Quando se está em digressão por muito tempo, todos os concertos não tendem a assemelhar-se?
Não, os concertos são como as pessoas. Cada uma é diferente. Cada cidade, cada multidão, cada local, cada dia, cada ambiente... são todos diferentes!
Falar dos Waterboys é falar de "The whole of the moon" ou "Fisherman"s blues". Tocar esses temas continua a dar-lhe prazer?
Ah, sim, felizmente adoro tocar essas músicas, porque também sou fã. Gosto delas pela mesma razão que o público gosta.
O single "The whole of the moon" nunca foi n.º 1 nos tops, mas passa de geração em geração. Os tops não são tão importantes como se poderia pensar?
Na altura, em 1991, ser n.o 1 significava muito e claro que teria gostado de chegar a essa posição. Mas realmente, quem se importa? As pessoas adoram a música e ela tem uma vida longa.
Como viveu a pandemia?
A fazer muito trabalho musical e parental...