Vamos admiti-lo: há aqui um certo "guilty pleasure". É um prazer porque sinto o mesmo que os que dizem que já fizeram o que já nunca mais ninguém poderá fazer. É um prazer com problemas na consciência porque, se já ninguém o pode fazer, é pelas piores razões.
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E é fácil perceber esta sensação, aliás não desprovida - confesse-se uma vez mais- de algum orgulho pueril : eu estive no topo de uma das torres gémeas do World Trade Center (WTC), em Nova Iorque.
Foi em 1993 e, naquele tempo ("naquele tempo?", estou a ficar velho), a ideia de que aquelas torres pudessem algum dia vir abaixo era pura e simplesmente inimaginável, pelo menos para mim. Tinha 14 anos e a viagem a Nova Iorque foi a primeira vez em que andei de avião. Mais ainda, fora Espanha, nunca tinha saído de Portugal.
Poderia portanto pensar-se que ver o cimento dos arranha-céus sem fim e o cinzento das avenidas que demoravam uma eternidade atravessar, a confusão de carros e de milhões de pessoas que caminhavam (ou corriam?) com a objectividade de uma régua de cálculo, podia ter sido assustador.
Não foi. Até porque eu já tinha estado na "Big Apple". O cinema, a televisão e a música já me tinham feito o favor de me dar a conhecer o caos organizado que fez de Nova Iorque a capital do mundo.
Mas se no chão tudo me pareceu evidente, foi no ar que o mistério se adensou. A subida ao último andar da torre sul, demorou mais de um minuto. Saímos no andar 107 . Tivemos sorte: o vento estava fraco e havia autorização para a subida ao terraço. Umas escadas rolantes levaram-nos ao topo do mundo, pelo menos ao do mundo construído.
Não cheguei a perceber o que senti, lá no alto, e, na verdade, prefiro, agora que volto a falar nisso, não fazer nenhum esforço para o tentar entender, mesmo sendo muito mais velho.
E muito menos para partilhar esta memória só minha: é que, perdoe-se o orgulho pueril, eu estive no cimo de uma das Torres Gémeas, em Nova Iorque. Pode não ser grande coisa, mas não há ninguém no Mundo que agora o possa repetir.