Cantora americana atuou para 40 mil pessoas na sexta-feira, no Parque da Cidade, no Porto. Recebeu flores e devolveu canções intensas e insinuantes. Houve aparato e introspeção. Já os Tropical Fucking Storm varreram a feira.
Corpo do artigo
O clamor anunciava à distância a entrada de Lana Del Rey no palco nobre do Primavera Sound na noite de sexta-feira. A entrada de Lana Del Rey e do seu séquito - bailarinas, cantoras e músicos -, que se instalaram num espaço cenográfico aparatoso, encimado por uma varanda, espécie de loggia aberta para as dezenas de milhares que gritavam pela cantora. Adejou como a rainha do baile: cabelo armado, bandolete, botas altas e vestido claro, leve, esvoaçante. Abriu os lábios para cantar “Without you” e imediatamente se percebeu que o espetáculo seria um triunfo - a devoção era gigante e a artista não brinca com os seus pergaminhos.
É algo que não escapa à observação: Lana Del Rey é rigorosa em tudo o que envolve a sua música e apresentação, conferindo constantemente as marcações das bailarinas, os momentos de entrada do coro, as entoações, o papel dos músicos. É a mais cinematográfica das cantoras que passaram pelo festival - e a mais iconográfica: para compreender o seu universo convém conhecer as telas de Norman Rockwell, a quem dedica o tema “Norman fucking Rockwell”, que pintou retalhos da vida americana ao longo de várias décadas do século XX - e o intrigante em Lana é o modo como parece emular e sabotar esse imaginário patriota num mesmo tema.
A cantora é trágica, nostálgica, ambígua e sensual. Atinge a grandiloquência, com dramatismo e coreografias amplas, mas reduz-se também à menina frágil que sussurra palavras doces. Investiu no álbum mais recente, “Did you know that there’s a tunnel under Ocean Blvd”, mas não deixou de visitar as gemas do disco que a fez célebre - “Born to die” (2012). A receção do público foi de êxtase contínuo ao longo de todo o espetáculo.
Dia de granizo e Tropical Fucking Storm
Um pouco antes, houve estardalhaço valente com Tropical Fucking Storm, o supergrupo australiano composto por membros de The Drones, High Tension e Mod Con. São nervosos em palco, Gareth Liddiard enquadrado por duas guitarristas frenéticas e um baterista assassino, o som é atonal e furioso, lembra os delírios de The Birthday Party, cheio de efeitos, estridência e reverberação. Mas funciona compactamente, talvez até melhor do que nos discos - e garantiu o momento alto do rock na segunda jornada do Primavera Sound Porto.
