Ao contrário do que o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, afirmou esta sexta-feira, garantindo que não voltaria atrás na decisão de retirar a estátua de Camilo do Largo Amor de Perdição, no Porto, a obra vai, afinal, ficar onde está. Em causa está uma deliberação municipal, aprovada pelo Executivo em 2012.
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Por partilhar a opinião de 37 “ilustres cidadãos” que, perante o "mau gosto" da estátua de Camilo Castelo Branco, no Largo Amor de Perdição, no Porto, pediram a remoção da obra e, acreditando o presidente da Câmara na inexistência de uma deliberação municipal para a instalação da escultura naquele local, Rui Moreira deu ordem para a remover. Mas, esta sexta-feira, o autarca voltou atrás. Afinal, a doação do trabalho de Francisco Simões, aprovada pelo Executivo em 2012, “previa também a colocação da estrutura no Largo Amor da Perdição”.
Moreira recua depois de milhares de cidadãos terem-se insurgido contra o pedido para a retirada da obra. Perante o abaixo-assinado inicial enviado ao autarca portuense, foi criada uma nova petição online (Pela não remoção de estátua de Camilo, no Porto), que em cerca de 24 horas reuniu quase oito mil assinaturas. Contudo, ainda na manhã desta sexta-feira, numa visita ao Mercado do Bolhão a propósito do aniversário do equipamento, o próprio presidente reforçou a sua posição: “Valorizei aquilo porque, nas pessoas que escrevem aquela carta, temos os dois maiores críticos de arte da cidade do Porto, claramente: Bernardo Pinto de Almeida e Miguel von Hafe Pérez. Com certeza que eles percebem muito mais do que vocês ou eu sobre esta matéria”. Além disso, continuou, também fazem parte desse grupo “ilustres cidadãos” como Mário Cláudio.
“Essas pessoas refletem um sentimento relativamente àquela estátua que corresponde ao meu. Não é por nenhum puritanismo. Se me perguntar, eu acho que aquilo, de facto, é feio. É de mau gosto”.
Apesar de garantir que nada iria fazer como consequência da sua opinião, ao perceber que a posição é “secundada por pessoas que têm, de facto, estes pergaminhos”, Moreira disse parecer-lhe “razoável que a estátua saia dali”. Por insistência dos jornalistas face a um eventual recuo do autarca a propósito do elevado número de pessoas que se mostram contra a retirada, Moreira terminou, dizendo: “Que bom que temos uma cidade em que tudo se discute”.
Sem “anuir” ao solicitado
Certo é que, poucas horas depois, a meio da tarde desta sexta-feira, a Câmara do Porto enviou uma nova declaração às redações a dar conta, precisamente, do contrário.
Uma vez que a “doação [da escultura de Francisco Simões] previa também a colocação da estrutura no Largo Amor da Perdição, doação essa que tinha sido aprovada pelo Executivo Municipal em 2012”, o autarca “não pode anuir, sem mais, ao que foi solicitado, pelo abaixo-assinado”.
Mas não fechou totalmente a porta à polémica: “Isso não se impede que o assunto possa a vir ser suscitado no mesmo órgão municipal”.
Autor ficou "perplexo"
Ao saber da polémica que se instalou em torno da sua escultura, Francisco Simões mostrou-se “perplexo”. Disse, em declarações ao JN, que a obra “foi aceite por toda a gente sem qualquer celeuma”. Além disso, e perante a interpretação feita pelos signatários da carta enviada a Moreira, o escultor assegurou que a figura da mulher nua retratada na esculta “não é de Ana Plácido”, com quem Camilo viveu e esteve preso na cadeia, mas sim das mulheres que constam na obra “Amor de Perdição”.
Ilda Figueiredo, vereadora da CDU e uma das signatárias da petição inicial, disse sempre ter interpretado a figura feminina da escultura instalada no Largo Amor de Perdição como sendo Ana Plácido. Contudo, perante as explicações de Francisco Simões, disse, ao JN, que a polémica "já não faz sentido".