Francisco Simões, autor da escultura de Camilo, no Largo Amor de Perdição, no Porto, diz-se "perplexo" com o abaixo-assinado que pede a retirada da estátua que doou, em 2012, à cidade. Acrescenta que ninguém da Câmara do Porto o contactou a dar conta do pedido dos 37 signatários: "deviam ter tido essa sensibilidade".
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É num estado de "perplexidade" e já bastante desgastado com a polémica em torno da possível retirada da estátua de Camilo, instalada no Largo Amor de Perdição, que o autor da obra, Francisco Simões, em declarações ao JN, diz que, em 2012, a iniciativa "foi aceite por toda a gente sem qualquer tipo de celeuma". Até porque, sublinha o escultor, o seu trabalho "foi oferecido ao povo do Porto".
Não percebe, ainda, como é que "onze anos depois, 37 pessoas fazem um abaixo-assinado" estando, entre elas, o ex-banqueiro Artur Santos Silva que, de acordo com Francisco Simões, "aprovou" a obra.
Ao mesmo tempo, o autor diz "não entender o senhor presidente da Câmara, que trata a estátua como trata o futebol". Rui Moreira encaminhou ao vereador do Urbanismo, Pedro Baganha, a carta que os 37 signatários lhe dirigiram com uma nota escrita pelo próprio. Nesse apontamento, refere-se à estátua como "tão deselegante obra". Isto, sem ninguém do Município ter antes dirigido uma palavra a Francisco Simões. "Ninguém [da Câmara] me contactou. O senhor presidente devia ter tido essa sensibilidade", critica o escultor, notando a rapidez na emissão do despacho de Moreira que dá ordem para retirar a obra.
Disse ainda, em declarações à RTP, que, a ser retirada a obra, a mesma deveria ser devolvida ao autor. Moreira encaminha-a para as reservas municipais.
Imagem de mulher "não é de Ana Plácido"
Francisco Simões reforça que a mulher retratada "não é de Ana Plácido", mas sim "de todas as mulheres retratadas no romance Amor de Perdição", de Camilo Castelo Branco, e acusa os signatários de tentarem "impor a sua própria leitura" sobre a estátua e utilizando um "conceito de gosto como se todos tivessem o mesmo".
Garantindo, ainda, não querer entrar em especulações, o escultor admite suspeitar de que este assunto possa tratar-se de uma "tentativa de tocar no ex-presidente [Rui Rio]", mas garante que "não dá para peditórios políticos".
Quanto à perplexidade, justifica-a pelo facto de "50 anos depois do 25 de abril, ainda se julgarem as coisas com regras de moral de bons costumes". "É tão triste, agora, 11 anos depois. Porque será que está a acontecer?".