A atriz Carmen Dolores morreu na segunda-feira, em Lisboa, aos 96 anos, disse à agência Lusa uma fonte próxima da família, esta terça-feira.
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Numa mensagem de pesar publicada no portal da Presidência da República na Internet, o chefe de Estado recorda que, "em 11 de julho de 2018, a sala principal do Teatro da Trindade, em Lisboa, passou a chamar-se Sala Carmen Dolores" e que nessa ocasião entregou à atriz as insígnias de Grande-Oficial da Ordem do Mérito, "uma das muitas distinções que lhe foram conferidas".
"Esse reconhecimento, expressivo, simultâneo e constante, do público, dos pares e dos responsáveis políticos, é tão significativo quanto justo, tendo em conta o talento de Carmen Dolores, a sua carreira distinta e uma certa ideia de estar em palco e de estar no espaço público", considera o chefe de Estado.
Marcelo Rebelo de Sousa enaltece a carreira de Carmen Dolores no teatro, descrevendo-a como "atriz de repertório", que "interpretou, com rigor e elegância, os clássicos e os clássicos modernos" - Shakespeare, Strindberg, Pirandello, Brecht, Giraudoux, Tennessee Williams, várias vezes Tchékhov - "com uma presença que impressionou diferentes gerações".
"Destacou-se igualmente como 'diseuse' e divulgadora de poesia, e como autora de livros de memórias, o último dos quais intitulado 'Vozes Dentro de Mim'. Vozes que se exprimiram na sua voz e dicção inconfundíveis, e que continuarão connosco e com os vindouros", acrescenta-se.
Atriz prestou "serviço de exceção" à cultura portuguesa
A ministra da Cultura, Graça Fonseca, recorda Carmen Dolores como uma "voz inesquecível" cujo talento "ajudou a transformar o teatro em Portugal" e que prestou um "serviço de exceção à cultura portuguesa".
"Uma atriz comprometida com a arte de pensar e de agir, num processo completo, que encantou o público, mas educou também e deu a conhecer, através da sua voz única, a diversidade e a riqueza da literatura portuguesa", lê-se numa nota de pesar assinada por Graça Fonseca.
"Transformou o seu trabalho e o seu talento num legado único e num serviço de exceção à cultura portuguesa", tendo-se tornado também numa "referência da arte de dizer poesia", sublinha a governante.
Estreia no Teatro da Trindade
Nascida em Lisboa, a 22 de abril de 1924, Carmen Dolores estreou-se nos palcos no Teatro da Trindade, na capital portuguesa, em 1945, integrada na Companhia Os Comediantes de Lisboa, na peça "Electra, a mensageira dos deuses", de Jean Giraudoux, encenada por Francisco Ribeiro (Ribeirinho).
Para trás ficava um percurso iniciado anos antes, na rádio, como declamadora e atriz, e no cinema, onde protagonizara filmes como "A vizinha do lado", de António Lopes Ribeiro, e "Amor de Perdição", de Leitão de Barros.
Seguir-se-ia o trabalho no Teatro Nacional D. Maria II, então com a Companhia Rey Colaço - Robles Monteiro, e um percurso de 60 anos que passou pela maioria dos palcos portugueses, companhias independentes, cinema, rádio e televisão.
Retirou-se em 2005, com a peça "Copenhaga", no Teatro Aberto, encenada por João Lourenço.
Em julho de 2018, a atriz foi condecorada pelo presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, com as insígnias de Grande-Oficial da Ordem do Mérito, no âmbito de uma homenagem no Teatro da Trindade à atriz, que incluiu a estreia da peça "Carmen", inspirada nas suas memórias, e o batismo da sala principal com o seu nome.
Carmen Dolores foi ainda distinguida com o grau de Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, atribuído pelo Presidente da República Jorge Sampaio, com a Medalha de Ouro da Câmara Municipal de Lisboa, o prémio Sophia de Carreira, da Academia Portuguesa de Cinema, e o Prémio António Quadros de Teatro, entre outros galardões.