Há vidas que se medem pela extensão dos anos, e há outras que se medem pela intensidade do que deixam. Verónica Echegui pertencia à segunda categoria. Partiu cedo, demasiado cedo, aos 42 anos, vítima de cancro, e Madrid , cidade onde nasceu e cresceu, ficou mais silenciosa, como se o ecrã tivesse repentinamente perdido cor.
Corpo do artigo
Filha de uma família afastada dos holofotes, cedo percebeu que a sua estrada não passaria por escritórios ou tribunais, mas por palcos e câmaras. Trabalhou como empregada de mesa em Londres, enquanto estudava teatro, e foi essa perseverança que moldou a sua energia tão singular. O destino quis que, em 2006, Bigas Luna lhe desse a "Juani" em Yo soy la Juani. Foi como se Espanha tivesse descoberto, de repente, uma voz nova, descarada e ao mesmo tempo vulnerável. Nunca mais deixou de ser olhada como promessa - embora, com os anos, tenha provado ser muito mais do que isso.
As suas personagens nunca foram simples reflexos: eram corpos cheios de fúria, ternura e contradição. Em "El patio de mi cárcel". mostrou a fragilidade das mulheres esquecidas. Em "Katmandú, un espejo en el cielo", encarnou uma professora capaz de atravessar mundos. Em "Explota Explota", dançou e cantou como se a vida fosse uma festa em aberto. Verónica tinha essa rara capacidade de transitar da dor mais crua ao riso mais luminoso.
Mais do que uma atriz
Mas não era só atriz: foi também criadora. A sua curta-metragem "Tótem Loba" revelou outra faceta - a de uma mulher que queria transformar dor em cinema. Era uma artista inquieta, alguém que não aceitava o silêncio quando a verdade pedia voz. E foi também corajosa fora do ecrã, ao partilhar as feridas que sofreu no meio artístico, dando rosto a tantas histórias que permanecem ocultas.
Nos últimos anos, o seu percurso estendeu-se às séries internacionais, provando que o talento não conhece fronteiras. Entre Londres, Barcelona e Madrid, foi colecionando papéis e afetos. E, no entanto, era na natureza e na simplicidade da vida quotidiana que dizia encontrar refúgio.
A morte chegou demasiado cedo, após uma doença contra a qual lutou em silêncio. Deixa uma carreira cheia de prémios e aplausos, mas sobretudo deixa um vazio humano. Recordá-la é recordar a força do cinema espanhol contemporâneo, mas também a coragem de uma mulher que nunca deixou de ser inteira - intensa, honesta, luminosa. A actriz era há mais de 15 anos, a companheira de Alex García, ator que conheceu nas filmagens de "Seis puntos sobre Emma".
Verónica Echegui parte, mas permanece em cada cena que nos tocou.