Longe dos holofotes, o executivo discográfico — e para muitos, acima de tudo, um mentor — alavancou carreiras de lendas da música afro-americana como Bill Withers, Whitney Houston e Janet Jackson, mas também apoiou políticos, atores e atletas.
Corpo do artigo
Clarence Avant morreu este domingo na sua casa, em Los Angeles, anunciou a família em comunicado esta segunda-feira. Tinha 92 anos.
"Com grande pesar, a família Avant/Sarandos anuncia o falecimento de Clarence Alexandre Avant. Graças à sua revolucionária liderança empresarial, Clarence ficou carinhosamente conhecido como 'O Padrinho Negro' nos mundos da música, entretenimento, política e desporto", diz a nota, citada pela agência de notícias AFP. "Clarence deixa uma família amorosa e um mar de amigos e parceiros que mudaram o mundo e continuarão a mudá-lo nas próximas gerações. A alegria do seu legado alivia a dor de nossa perda", continua.
Nasceu numa América segregada, a 25 de fevereiro de 1931, na Carolina do Norte, e apenas teve direito a educação até ao nono ano — não que essas adversidades lhe ditassem um futuro menos próspero. Acabaria por tornar-se uma figura imponente e influente do entretenimento, dando palco e reconhecimento à cultura afro-americana.
Começou por gerir um clube na Nova Jérsia, no final dos anos 50, e passou a representar alguns dos artistas que por lá passavam. Joe Glaser — outro gigante incontornável da indústria musical, agente de Louis Armstrong e Duke Ellington — acolheu-o e ensinou-o a navegar o mundo sinuoso da cultura norte-americana da altura (também ela bastante segregada).
Não tardou a representar grandes nomes da música, nem todos eles afro-americanos, e depressa enveredou pelo cinema. Ajudou a fundar a Venture Records, o primeiro esforço conjunto entre uma editora discográfica de propriedade de pessoas afro-americanas e uma grande empresa no ramo, a MGM.
Em 1960 criou a editora discográfica Sussex Records — nas suas palavras: uma combinação do que as pessoas querem mais, sucesso e sexo. Não durou mais de meia década, mas lançou os primeiros álbuns de Bill Withers, estrela do soul falecida em 2020, e catapultou artistas como Quincy Jones, Pharrell Williams, Snoop Dogg e Whitney Houston.
Já nos anos 70, Clarence Avant fundou a Tabu Records, e durante um período dos anos 90 geriu a célebre editora Motown Records. Foi ainda responsável pela negociação de contratos para atletas afro-americanos, como Hank Aaron, e apoiou figuras políticas, como o antigo presidente norte-americano Barack Obama.
No documentário biográfico da Netflix sobre a sua carreira "The Black Godfather", lançado em 2019, Barack Obama conta que Clarence Avant compreendia que existiam dois tipos de poder. "Existe o poder que precisa de atenção, mas também existe o poder que vem de estar nos bastidores", explicou.
Em 2007, recebeu o Thurgood Marshall Lifetime Achievement Award, um prémio da Associação Nacional pelo Progresso das Pessoas de Cor (NAACP, na sigla em inglês) para celebrar o seu papel na luta pelos direitos humanos e civis.
Em 2013 foi galardoado com o prémio de empreendedorismo nos prémios BET Honors. "Eu não consigo fazer discursos. Essa não é a minha vida. Eu faço negócios", disse na cerimónia.