Morreu no domingo, vítima de doença prolongada, o fotógrafo Luís Ferreira Alves. Tinha 84 anos. O funeral é na próxima terça-feira, dia 12, às 17 horas, no Tanatório de Matosinhos.
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Num "sentimento de grande tristeza", que inundou familiares e amigos de Luís Ferreira Alves, Nuno Sampaio, diretor da Casa da Arquitetura, instituição com quem o fotógrafo tinha já uma relação de longa data, recorda a pessoa "extremamente culta", com "capacidade de ensinar e contaminar todos os que com quem ia convivendo".
"No que toca à arquitetura, foi realmente único. Ainda era do tempo da máquina analógica, em que cada fotografia era uma oportunidade. Portanto, às vezes, numa tarde inteira, tirava umas quatro ou cinco fotografias. Mas essas imagens faziam-nos ver a arquitetura de maneira diferente e eu acho que muito daquilo que é conhecido nacional e internacionalmente da arquitetura portuguesa, deve-se ao Luís Ferreira Alves. Era um fotógrafo silencioso e tranquilo. Foi o talento dele que deu a conhecer a arquitetura portuguesa lá fora", garante Nuno Sampaio, considerando Luís Ferreira Alves como o "precursor" da fotografia de arquitetura.
A nível nacional, o diretor da Casa da Arquitetura recorda, por exemplo, os trabalhos que o fotógrafo fez pela Câmara de Matosinhos, em particular para registar a obra da Real Vinícola, onde é hoje a Casa da Arquitetura. "Fotografou-a quando ainda era uma ruína, fez o registo da evolução da obra e do resultado final. Mais tarde, tivemos uma grande exposição do Eduardo Souto Moura [de quem Luís Ferreira Alves era grande amigo] em que quase todas as fotografias eram dele. O Souto Moura dizia, a brincar, que era uma exposição do Luís Ferreira Alves com os projetos de Eduardo Souto Moura", conta o diretor da Casa da Arquitetura, dando nota de que o fotógrafo também construiu uma amizade com o arquiteto Siza Vieira.
Em 2016, o fotógrafo publicou um livro sobre a sua longa colaboração com Souto Moura: "Luís Ferreira Alves - Fotografias em Obras de Eduardo Souto de Moura".
No ano passado, a Casa da Arquitetura fez uma exposição sobre Peroguarda, uma aldeia no Alentejo, com fotografias de Luís Ferreira Alves, captadas nos anos 58 e 59. "Transformámos um espaço para receber, propositadamente, essa exposição e, ainda durante a mostra a Sra. ministra da Cultura [à data, Graça Fonseca], decidiu conceder-lhe a medalha de mérito cultural", recorda o diretor da Casa da Arquitetura.
"Apesar de estar doente, conseguiu proferir umas palavras a todos os que assistiram à cerimónia. Não foi há muito tempo", relembra Nuno Sampaio, agradecendo a Luís Ferreira Alves a doação, ainda em vida, de todo o seu acervo à Casa da Arquitetura.
O funeral é na próxima terça-feira, dia 12, às 17 horas, no Tanatório de Matosinhos.