
Luis Fernando Verissimo era um dos autores mais lidos no Brasil
Foto: Wikimedia Commons
O escritor brasileiro Luís Fernando Verissimo morreu este sábado, aos 88 anos, em Porto Alegre, confirmaram os seus familiares à imprensa brasileira.
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De acordo com o portal brasileiro G1, Verissimo estava internado nos cuidados intensivos do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, há cerca de três semanas com princípio de uma pneumonia.
O Ministério da Cultura (MinC) do Brasil afirmou, num comunicado divulgado no seu site oficial, ter recebido "com pesar a notícia da morte do escritor, cronista e jornalista Luís Fernando Veríssimo".
O Ministério, na sua nota, solidarizou-se "com familiares, amigos, colegas e milhões de leitores que hoje lamentam a partida de um dos maiores cronistas da história da literatura nacional".
Segundo o Ministério da Cultura brasileiro, Luís Fernando Verissimo foi agraciado com a Ordem do Mérito Cultural em 1996, no primeiro ano em que a honra foi concedida.
Luís Fernando Veríssimo partiu, deixando um silêncio que habita as letras e as gargalhadas que ele tão delicadamente despertava. Era filho do grande Érico Veríssimo, mas soube transformar a herança e criar, com a sua própria voz, uma literatura que ora brincava, ora refletia, mas nunca se reduzia ao banal. Foi cronista subtil, de humor certeiro, e observador terno da humanidade - combinação rara que, em tempos menos atentos, fazia rir e pensar ao mesmo tempo.
Nascido em 1936, ao longo da sua carreira atravessou géneros com leveza e irreverência: da crónica, do conto ao romance, passando por uma poesia disfarçada de ironia. Estreou-se em 1969 e, desde então, construiu uma trajetória sólida e diversificada, transitando entre a crónica, a ficção, o conto, a tradução e o humor gráfico.
"Comédias da vida privada" (1994) foi, para muitos, o retrato de si mesmos - casamentos, desencontros, paixões, pequenas tragédias domésticas - tudo traduzido nesse riso que começa nos lábios e se desfaz nos olhos, um humor que revela também ternura. Em "As mentiras que os homens contam" (1997), expôs o quotidiano das nossas pequenas farsas com humor quase político. Já "A eterna privação do paraíso" (1998), título que soa a poema, evoca uma melancolia suave - dos amores perdidos, dos tempos idos, da infância lembrada como um céu azul inalcançável.
Os seus personagens eram gente comum: quem perde o autocarro, esquece o nome de uma canção, ou se redescobre numa ida ao supermercado. Cada crónica era um espelho, e no reflexo surgia esse riso cúmplice que ele nos oferecia como missão discreta. Em coleções como "Desde que o mundo é mundo" (2005) ou "Duca e o espelho" (2006), voltou a transformar o quotidiano em matéria literária.
Foi presença constante na imprensa, assinando crónicas que os leitores aguardavam como quem espera confidências de um amigo próximo. Parte da sua obra saltou do papel para o ecrã, através de adaptações para cinema e televisão, levando o seu humor às salas e às casas de todo um país.
Além dos livros, Veríssimo foi presença constante na imprensa brasileira, com colunas publicadas em jornais de grande circulação, onde comentava com leveza e sagacidade os temas do quotidiano, da política, da cultura e dos afetos. O escritor recebeu o prémio Juca Pato - Intelectual do Ano em 1997, galardão oferecido pela União Brasileira de Escritores.
Em 2003, o seu livro Clube dos Anjos, na versão em inglês (The Club of Angels), foi escolhido pela New York Public Library, um dos 25 melhores livros do ano. Já em 2004, recebeu o Prix Deus Oceans do Festival de Culturas Latinas de Biarritz, em França.
