O escultor norte-americano Richard Serra, um dos principais nomes da arte contemporânea com obras monumentais criadas com placas de aço, morreu na terça-feira, aos 85 anos.
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Serra morreu devido a uma pneumonia na terça-feira em casa, em Long Island, estado de Nova Iorque, informou o seu advogado, John Silberman, ao jornal "The New York Times".
As peças de Serra, surpreendentemente grandes, estão em exposição em todo o mundo, dos mais importantes museus de Paris ao deserto do Catar. As obras enormes e arredondadas, de aspecto minimalista, causaram polémica em certas ocasiões devido à sua natureza imponente.
Nascido na cidade de São Francisco a 2 de novembro de 1939, com mãe de origem judia russa e pai espanhol, Serra estudou Literatura Inglesa na Universidade da Califórnia, antes de ser admitido em Yale para estudar Artes Plásticas.
Graças a uma bolsa de estudos, mudou-se para Paris, onde passava quase diariamente pelo local de trabalho do escultor romeno Constantin Brancusi no Museu Nacional de Arte Moderna. O então aspirante a pintor decidiu dedicar-se à escultura.
No final dos anos 1960 foi para uma Nova Iorque em plena efervescência artística. Para sobreviver, criou uma empresa de limpeza de móveis na qual empregou o compositor Philip Glass como assistente.
Em 1967-1968, publicou como manifesto uma lista de 84 verbos ("envolver", "apoiar", "cortar", "dobrar"...) e 24 elementos de contexto ("gravidade", "entropia", "natureza"...), o que inclui todos os processos à sua disposição para a realização de uma obra.
Nos seus primeiros trabalhos, utilizou borracha, fibra de vidro, látex e neon. Também projetou chumbo derretido entre muros e pisos, como em "Splash" (1968-1970).
No final da mesma década, criou uma obra fundadora de seu estilo, "One ton prop (House of cards)", quatro placas quadradas de chumbo de 122 cm que permanecem equilibradas com o próprio peso, como um castelo de cartas.
A partir dos anos 1970, Serra passou a priorizar as instalações em áreas abertas e o aço Corten. A escolha deste material não foi arbitrária. Conhecia perfeitamente as suas características e o seu potencial depois de ter trabalhado numa siderurgia na juventude.
Serra desenhava esculturas especificamente para os espaços que iriam ocupar e tinha interesse em estudar a interação das obras com o meio ambiente.
"Certas coisas... ficam gravadas na imaginação e temos a necessidade de reconciliação com elas", afirmou Serra numa entrevista ao apresentador Charlie Rose no início dos anos 2000.
Os jogos de equilíbrio, o peso do aço e a altura das placas criam no espectador uma sensação de insegurança, de pequenez, de vertigem. É uma experiência desestabilizadora e, em alguns momentos, irritante.
Em 1981,"Tilted arc", uma gigantesca placa de metal de 3,6 metros de altura e 36,6 metros de comprimento instalada na Federal Plaza de Nova Iorque, incomodava tanto as pessoas que foi desmontada oito anos depois, após uma longa batalha judicial.
Uma das suas obras recentes, torres sombrias que parecem emergir da areia no deserto do Catar, está isolada nas dunas, acessível apenas depois de uma viagem de carro num ambiente com temperaturas de até 50ºC.
"Quando alguém observa as minhas obras, não se lembra de qualquer objeto. Fica uma experiência, uma passagem. Experimentar uma das minhas peças é sentir uma noção de tempo, do lugar e reagir a isso. Não é lembrar-se de um objeto porque não há objeto para reter", explicou o artista em 2004.