Cantora de origem cabo-verdiana morreu em Lisboa. Carreira começou, em 1994, quando ganhou o primeiro “Chuva de estrelas”. Último single foi lançado há dois meses.
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Sara Tavares morreu este domingo, aos 45 anos, perdendo a luta contra um tumor cerebral que lhe havia sido diagnosticado há 14 anos. Em setembro, deixou uma última marca, com o lançamento do single “Kurtidu”, assinalado, às 18.44 horas do dia 14, com a derradeira publicação na sua página do Facebook.
Estava internada no Hospital da Luz, em Lisboa, e o seu estado de saúde agravara-se nos últimos meses, originando uma onda de solidariedade nas redes sociais, de familiares, amigos e muitos artistas.
Sara, de ascendência cabo-verdiana, fazia-nos companhia desde 1994, quando, com apenas 16 anos, venceu a primeira edição do concurso televisivo “Chuva de estrelas”, interpretando "One moment in time", de Whitney Houston. E o encantamento foi tal que, nesse mesmo ano, Rosa Lobato Faria a convidou para participar no Festival RTP da Canção, que ganhou com a canção “Chamar a música”, com melodia de João Oliveira.
Ainda antes de conseguir o oitavo lugar no Eurofestival, que decorreu na Irlanda, assinava um contrato com a produtora BMG.
Em 1996, gravou o primeiro álbum, “Sara Tavares & Shout”, um single gravado com um grupo gospel formado especialmente para acompanhá-la, sob a coordenação de um missionário norte-americano, Dale Lee Chappell.
Álbum a solo
Seguiu-se o primeiro álbum a solo, “Mi ma bô” (que em português significa “Eu e tu”), produzido pelo congolês Lokua Kanza. Foi disco de ouro em 2000 e Sara Tavares ganhou um Globo de Ouro como melhor intérprete do ano em Portugal.
Nas duas décadas seguintes, editou vários álbuns que a aproximaram das raízes cabo-verdianas, com destaque para “Balancê” (2005), que lhe valeu um disco de platina e uma nomeação como Artista Revelação aos prémios BBC Radio 3 World Music.
Grandes artistas
Bissexual assumida, Sara dava voz a grandes êxitos da música portuguesa, nomeadamente “Eu sei…” (1999) e “Ponto de luz” (2009). Ao longo da carreira, a cantora realizou colaborações com grandes artistas do panorama nacional, como Tiago Bettencourt, Buraka Som Sistema e Richie Campbell, e chegou a gravar um tema com Nelly Furtado, “The most beautiful thing” (2012).
Em 2011, recebeu o Prémio de Melhor Voz Feminina nos Cabo Verde Music Awards e, no ano seguinte, deu continuidade à digressão internacional “Xinti”, título do álbum editado em 2009, que lhe valeu o Prémio Carreira do África Festival, na Alemanha.
Em 2018, esteve nomeada para os Grammy Latino com o quinto álbum, “Fitxadu” (2017), contando com Manecas Costa, Nancy Vieira, Toty Sa’Med e Kalaf Epalanga entre os convidados.
Entre as muitas reações à morte de Sara, destaque -se a do presidente de Cabo Verde, José Maria Neves: “Continuarás connosco, Sara, dizendo coisas bonitas! A tua luz alumiar-nos-á o caminho que ainda nos cabe, nesta terra que transitoriamente nos acolhe”.
Também Marcelo Rebelo de Sousa recordou a “vocação, dedicação e determinação” da cantora, salientando a sua “grande proximidade à música e aos músicos africanos”.