
David Gilmour, um dos elementos dos Pink Floyd
Maciej Kulczynski/EPA
"Hey, teachers, leave them kids alone", tornou-se o verso mais conhecido do início dos anos 1980 e um dos mais famosos da história do pop/rock. Ouvia-se na quinta faixa ("Antoher brick in the wall") do álbum duplo "The wall", o 11.º0 trabalho de estúdio dos Pink Floyd, narrativa sobre a alienação e o isolamento que foi lançada a 30 de novembro de 1979.
O sucesso do disco, que se manteve durante 15 semanas no primeiro lugar da tabela Billboard dos EUA, tendo vendido mais de 24 milhões de cópias, não deixa de ser irónico, tratando-se de um registo que pretendia refletir justamente sobre a relação perversa entre os ídolos musicais e os fãs. Em meados dos anos 1970, Roger Waters, que assinou todas as letras de "The wall", disse numa entrevista que "já ninguém se torna um fã pela qualidade da música, mas sim porque deseja ser tocado pelo glamour e pela fama."
Seria durante a digressão "In the flesh", onde se promovia o anterior álbum conceptual da banda, "Animals", aquela onde pontuava um gigantesco porco insuflável, que Waters se deu conta, com grande irritação, que os concertos de massas eram sobretudo eventos sociais e não um momento de cumplicidade e partilha. Muito antes das selfies e das filmagens para as redes sociais, o compositor dos Pink Floyd compreendeu que havia um "muro" a separar os músicos da audiência.
A tradução artística dessa ideia foi "The wall" - uma gigantesca metáfora que acompanha o percurso de Pink, alter ego de Waters com costelas de Syd Barrett, essa alma penada que assombrou a banda e lhe inventou o primeiro disco, "The piper at the gates of dawn" (1967). Protagonizado por Bob Geldof no filme de Alan Parker, de 1982, que transformava em imagens os temas de "The Wall", Pink é um estrela rock perturbada, cujos traumas passados, a morte do pai na Segunda Guerra Mundial, a proteção exacerbada da mãe, a opressão escolar e o divórcio, adquirem a forma de tijolos que o vão cercando.
Cada tijolo é também uma canção nesta ópera rock ambiciosa e grandiloquente. Completado o muro e o isolamento, Pink entrega-se a devaneios de grandeza, imaginando-se um ditador que comanda ações contra minorias (a relação com Margaret Thatcher foi aventada por vários críticos). Mas a sua consciência resiste e leva-o a tribunal, "The trial", que ordena que o muro venha abaixo.
A história da gravação do álbum forneceu também alguns tijolos para o muro que se ia construindo no interior dos Pink Floyd, com o despedimento de Richard Wright, teclista da banda, que acabaria por ser o único a lucrar com a dispendiosa "The wall tour", como músico assalariado.
