Castelo Branco acolhe dois núcleos do projeto que integra a coleção e a obra de Manuel Cargaleiro.
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Manuel Cargaleiro (n.1927) nasceu numa pequena aldeia do distrito de Castelo Branco. Poderíamos defini-lo como um dos últimos Mestres vivos da história da arte portuguesa. Confessa-nos, numa entrevista recente a José Maria Pimentel e ao podcast “45 Graus”, que as mantas de retalhos coloridas, com formas geométricas variadas, que a mãe fazia, lhe ficaram gravadas e influenciam a sua produção artística com uma história de quase oito décadas. O que também não lhe sai, é a tradição cerâmica da Beira Baixa e, em particular, a designada cerâmica “ratinha”, nome dado aos trabalhadores rurais, já referidos em Gil Vicente no século XVI, que iam sazonalmente das Beiras para o Alentejo. Os pratos, decorados com elementos vegetalistas e figuras típicas, surgem-lhes associados mais tarde, estimando-se a sua produção a partir do século XVIII. Tratava-se de loiça rude e de baixa qualidade, mas que cada trabalhador possuía para fazer a sua refeição. Chegou a ser usada como moeda de troca por outros produtos, o que também contribuiu para a sua difusão.
É precisamente de um vasto conjunto destes objetos que se constituem as coleções de um dos núcleos do Museu Cargaleiro, espaço aberto ao público em 2005 e que ocupa a Solar dos Cavaleiros, um palacete construído no século XVIII que se localiza no coração de Castelo Branco. Com a visita, torna-se clara a paixão de Manuel Cargaleiro pela cerâmica, tecnologia onde se iniciou na prática artística por volta de 1945, depois de uma tentativa de estudos na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. O artista chega mesmo a afirmar, em diferentes contextos, que começou na cerâmica e é a cerâmica que o define: “sou ceramista mesmo quando faço pintura a óleo.” Neste núcleo do museu, apresentam-se peças da sua coleção, provas do seu estudo profundo sobre a cerâmica e as suas origens, sendo inegável que a paleta que o define lhe venha dali, daquele objeto de campesinos de outrora.