A parceria entre três entidades e o investimento de 300 mil euros por parte do Ministério da Cultura vão ajudar a estabelecer os princípios que deverão nortear a futura gestão do museu a instalar na Casa do Passal, residência de Aristides de Sousa Mendes (1885-1954). Ao conceder vistos de entrada em Portugal a milhares de indivíduos, o diplomata português salvou-os da morte que não poupou mais de 20 milhões de pessoas durante a II Guerra Mundial.
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"Precisamos de nunca esquecer que o passado nos serve de guião para o futuro", enfatizou, ao JN, a ministra da Cultura, Graça Fonseca, na véspera de assinar o protocolo que envolve a tutela, através da Direção Regional da Cultura do Centro, o Município do Carregal do Sal e a Fundação Aristides Sousa Mendes.
"O museu será uma forma de dar a conhecer às novas gerações que, por exemplo, a liberdade de circulação, que hoje temos como garantida, é uma realidade que nem sempre existiu".
Depois de alguns avanços e recuos, que remontam ao ano de 2017, o projeto de requalificação e musealização da Casa do Passal, em Cabanas de Viriato - o imóvel foi classificado, em 2011, como Monumento Nacional -, conhece agora novo impulso graças ao protocolo que será assinado hoje.
Este equipamento cultural, cujas obras de requalificação foram assumidas em maio pela Autarquia de Carregal do Sal, será um dos eixos estruturais do projeto "Nunca Esquecer - Programa Nacional em Torno da Memória do Holocausto", que decorre da resolução do Conselho de Ministro de 20 de junho passado.
Seis meses para o plano
Este protocolo, precisou Graça Fonseca, "estabelece os princípios de parceria a desenvolver entre os signatários para a definição do modelo de gestão e manutenção da Casa do Passal. As regras estabelecidas entrarão em vigor depois da finalização das obras de requalificação e musealização" .
Neste sentido, será constituída uma comissão de acompanhamento composta por um representante de cada um dos signatários do documento. A partir de hoje, e por um prazo máximo de seis meses, caberá a esta comissão a responsabilidade de traçar esse plano e modelo de gestão. Ou seja, deverá ser conhecido em junho do próximo ano.
"Com este passo há um conjunto de compromissos que vão ser assumidos e que estão relacionados com a garantia de abertura ao público do futuro museu", referiu a responsável do Governo. Em causa estão, também, "projetos de estudo e investigação sobre o legado de Aristides Sousa Mendes, cooperação científica com outros museus e organismos vocacionados para a investigação, um plano de edições e outro de atividades educativas destinadas ao público escolar".
Para Graça Fonseca, o objetivo passa por "construir uma plataforma entre parceiros públicos e privados que, com recurso à nova lei do mecenato, contribua para a dinamização e divulgação da iniciativa "Nunca Esquecer". Por isso, assegura a ministra, "o protocolo que viabiliza o financiamento é apenas um primeiro passo". O Governo, disse, "através de vários ministérios, continuará a ser parceiro futuro neste projeto".
Salvou milhares e morreu na miséria
Aristides de Sousa Mendes nasceu em Cabanas de Viriato, concelho de Carregal do Sal, a 19 de julho de 1885. No início da Segunda Guerra Mundial (1939/45), mais precisamente a partir de 1940, Sousa Mendes desempenhava as funções de cônsul em Bordéus, tendo concedido cerca de 30 mil vistos para salvar a vida de refugiados do nazismo, a maioria judeus, contra as ordens expressas do então regime fascista português, liderado por António Oliveira Salazar. Obrigado a voltar a Portugal, Sousa Mendes foi demitido do cargo e ficou na miséria, com a sua numerosa família. Morreu na pobreza no dia 3 de abril de 1954, no Hospital dos Franciscanos, em Lisboa.