Por todo o país, sucedem-se eventos dedicados ao "país irmão". Forte comunidade imigrante é uma das causas.
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A quinta edição do North Festival vai ter um dia dedicado à música brasileira. Acontece já no dia 27 e traz de novo Ivete Sangalo, 12 anos depois, ao Norte de Portugal. Mas os eventos focados nos ritmos do país irmão não ficam por aí. Só estreias ao vivo de monta há três: Brasil Vibes, no Altice Arena, a 26; BRFest, na Praia do Relógio, Figueira da Foz, a 15 e 16 de julho; e Brazil Groove Music, de 15 a 19 de agosto, no Multiusos de Guimarães.
Como se não bastasse, ainda com datas a anunciar, mas com regresso garantido em 2023, o Villamix, um dos maiores festivais de música do Brasil, aterra em Lisboa, depois dos adiamentos devido à pandemia.
Estes são alguns exemplos de como a música brasileira tem pautado de forma regular os cartazes e programações em Portugal. É possível percebê-lo olhando para os eventos que vão sendo anunciados, mas são os próprios promotores que o confirmam.
Segundo Romeu Alves, diretor de marketing da Memories of Tomorrow (MOT), organizadora do BRFest, a crescente imigração de brasileiros para Portugal não explica tudo: a procura dos portugueses pelos ritmos do outro lado do oceano Atlântico também tem aumentado. "O BRFest é um ponto de encontro para qualquer brasileiro, mas é também uma homenagem do povo português à música brasileira".
Atualmente, a comunidade brasileira representa 31% da população estrangeira em Portugal, com mais de 233 mil residentes vindos.
"Streaming" ajuda
No ativo há 20 anos, Jorge Veloso - responsável da Vibes & Beats, organizadora do North Festival - reconhece que, embora a ligação entre Portugal e Brasil tenha sido sempre forte, estamos perante um fenómeno novo, que se traduz "num crescimento massivo da música brasileira".
Também os números do "streaming" o confirmam. Ao JN, o Spotify apresentou um dado curioso: nos últimos cinco anos, 15% das músicas nas listas das 20 mais tocadas em Portugal eram oriundas do Brasil. Uma presença homogénea que nenhuma outra cultura consegue.
Para Jorge Veloso, este crescimento é independente de idades, classes e géneros musicais. "Tem acontecido por todo o lado e em toda a gente. Temos espetáculos que vão desde os antigos conhecidos, como Seu Jorge ou Daniela Mercury, às recentes descobertas que fazem furor entre os mais jovens, como Ana Castela".
Para Romeu Alves, da MOT, a inserção de nomes brasileiros nas programações foi "natural". "Em 2020, o cabeça de cartaz do Somni foi o DJ Alok. Não por ser brasileiro e estarmos a pensar em atrair o público do Brasil. Foi porque atingiu um sucesso mundial".
O papel do tiktok
O mesmo tem acontecido a outros artistas, diz, especialmente à boleia das redes sociais. O brasileiro Pedro Neto, promotor de eventos, corrobora, acreditando que a plataforma TikTok tem um papel fundamental na divulgação da cultura brasileira no Mundo. "Basta um pequeno vídeo ficar viral para uma determinada música passar, em poucos dias, a ter milhões de visualizações". E, por consequência, ser requerida para eventos.
Não é só na música que a cultura brasileira tem dado cartas. Neto fala de um crescimento "no mundo do entretenimento em geral", da música ao stand-up. E dentro da própria indústria musical, refere que o Brasil tem crescido em diversidade - com cada vez mais géneros a serem exportados.
Quanto a percentagens, tanto os promotores portugueses como o brasileiro atestam: desde a pandemia, o público dos eventos totalmente dedicados ao Brasil tem sido dividido: 50% portugueses e 50% brasileiros.
O diretor da MOT afirma que, ainda que a ligação entre Portugal e o Brasil seja antiga e profícua, "há mais artistas brasileiros a querer tocar fora do país, e especialmente em Portugal".