"Andaluzia" é o novo disco de viagem de Sean Riley e tem mão de Paulo Furtado. É apresentado hoje no Porto.
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A imagem de uma antiga cabana de pescadores foi o íman que atraiu Afonso Rodrigues para Matalascañas, no Sul de Espanha, enquanto procurava um lugar para compor e gravar o sucessor de "California", álbum de 2018 criado em motéis e estradas do oeste dos EUA na companhia de Paulo Furtado (ou The Legendary Tigerman). A nova aventura durou "três dias e três noites e gerou cinco temas", reunidos no EP "Andaluzia", que será interpretado hoje na íntegra no Passos Manuel, no Porto, juntamente com outro repertório do fundador de Sean Riley & The Slowriders e dos Keep Razors Sharp.
"Gravar fora de estúdios convencionais e viajar" é o lema que presidiu às duas jornadas musicais, que poderão ter sequência, diz Sean Riley: "Ainda não há sítio nem calendário, mas a vontade está lá: o importante é que a experiência seja sempre maior do que o resultado". Ganhou-lhe o gosto em 2017, quando Paulo Furtado o convidou a visitar o estúdio onde gravava o álbum "Misfit" - o rancho de La Luna, em Joshua Tree, na Califórnia. Dali partiram para Los Angeles, Tijuana, voltaram a norte, para São Francisco, desceram outra vez pelo Big Sur. Pelo caminho, Riley compôs e escreveu, Furtado gravou e fotografou.
"Queríamos continuar a seguir a rota da beat generation", diz o cantor, que pensou em Tânger como etapa seguinte. Mas a pandemia tornou complicada a viagem para Marrocos e para a cidade onde William S. Burroughs escreveu um dos mais célebres frescos desse movimento literário dos anos 1950/60 - "Naked lunch". Pensaram noutra geografia, mais acessível, e encontraram a cabana de pescadores na Andaluzia. Desta feita, Paulo Furtado não iria só gravar e fazer imagens, caber-lhe-ia toda a produção e arranjos, "tudo o que não é guitarra acústica e a minha voz", especifica Sean Riley.
Munidos de guitarras, sintetizadores modulares e uma câmara de filme Super 8, os dois músicos alugaram a cabana e ali instalaram o estúdio improvisado. Era novembro de 2021, a praia estava por conta deles: "Tinha partes dos temas já escritos e compostos, mas aquele lugar, com a sua chuva morna e o vento quente, influenciou o nosso estado de espírito e o mood das canções". Se Sean Riley levava parte do trabalho já programado, Paulo Furtado começou do zero, como explicou no texto de apresentação do álbum: "Não tinha planeado exatamente o que fazer quanto aos arranjos, queria ser o mais espontâneo possível a reagir ao ambiente, à interpretação do Afonso e ao que as canções necessitavam. O caminho [...] surgiu por si mesmo, as canções falaram e eu segui o que me pediam, construindo sons analógicos ou digitais que foram completando o puzzle sonoro". Além da parte musical, Furtado captou os ambientes da Andaluzia, em tons pálidos e nostálgicos, e imprimiu-os no vídeo de "Good kids", a balada que sintetiza o espírito do álbum: vagaroso, melancólico, meditativo.