Salários em atraso e acusações de gestão danosa ensombram o projeto. Diretor-executivo confirma dívidas: passivo chega ao milhão de euros.
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Com um passivo de um milhão de euros e os salários de fevereiro e março ainda por saldar, a Orquestra do Norte (ON) "está ao abandono". A denúncia chegou ao "Jornal de Notícias" por elementos da estrutura, que falam ainda na "completa indiferença de uma direção que nem os próprios sabem bem que o são".
As mesmas fontes apontam ainda uma "gestão danosa no passado" que deu origem a um buraco orçamental que "tem vindo lentamente a ser liquidado, mas apenas à custa dos seus profissionais".
Os problemas financeiros da Orquestra do Norte não são recentes, com a acumulação de salários em atraso e sucessivas promessas de regularização que acabam por não ser cumpridas.
"Dificilmente recebemos tudo o que nos é devido, sempre por partes e com a assunção de que, se não for assim, a instituição fecha", relata um elemento da equipa, que recorda ainda os problemas enfrentados até 2012 devido ao recurso aos falsos recibos verdes.
José Bastos, diretor-executivo do projeto, confirmou ao JN os meses em dívida aos funcionários e colaboradores, mas garantiu que "estamos a tentar ultrapassar os problemas". Sobre as acusações de gestão danosa, desafiou os autores da denúncia interna a encaminharem o caso para o Ministério Público.
No ano passado, perante a mesma acusação de salários em atraso, José Bastos culpou o modelo de financiamento estatal "desadequado da realidade" pelas dificuldades financeiras da Orquestra. Uma acusação rejeitada pela DGArtes, que relembrou que nos outros agrupamentos regionais - Orquestra Filarmonia das Beiras e Orquestra Clássica do Sul - "as situações estão regularizadas e os pagamentos efetuados". Até à hora do fecho da edição, a DGArtes não respondeu ao nosso pedido de informação adicional sobre o novo atraso no pagamento de salários aos músicos da ON.
Sede do projeto, o município de Amarante detém também a presidência rotativa da Orquestra do Norte. Ao JN, o autarca José Luís Gaspar refutou as acusações de falta de apoio autárquico, reforçando a ideia de que "Amarante é, desde sempre, o melhor cliente da Orquestra do Norte", dadas as frequentes atuações realizadas no concelho. "Se o projeto alguma vez esteve em risco, foi no passado", afirmou, sem querer alongar-se em comentários.
Apesar da instabilidade laboral, os 34 músicos da Orquestra continuam a cumprir as suas funções: estima-se que anualmente atuem para 100 mil pessoas. O próximo concerto, "Música nos caminhos de Santiago", é já no sábado.
Fundação
A primeira orquestra regional portuguesa
Criada em 1992, a Orquestra do Norte assumiu-se desde o início como um projeto de descentralização da cultura musical. Vencedor do primeiro concurso nacional para a criação de orquestras regionais, instituído nesse ano, o agrupamento é gerido pela Associação Norte Cultural. Apesar de a direção ser constituída por representantes de cinco municípios (Amarante, Guimarães, Penafiel, Lamego e Fafe), a responsabilidade executiva é da Associação.