Conserva a sua matriz identitária, um centro histórico requalificado com bom gosto e sabedoria.
Corpo do artigo
O seu casco antigo é iluminado pela passagem de alguns vultos das artes e das letras: Antero e Camilo, Eça e Guerra Junqueiro, Ruy Belo, Saúl Dias/Júlio e seu irmão José Régio, o escritor de "Benilde, ou a Virgem Mãe". Na cidade adoptiva de Robert e Sonia Dalaunay, a herança patrimonial é tratada com respeito e atenção.
Vila do Conde é uma cidade rendilhada por um casario antigo e virada para um rio, ainda com estaleiros de embarcações, calafates e artífices de saberes milenares. Na vila quinhentista ligada à epopeia dos Descobrimentos, o visitante tropeça em edifícios de arquitectura manuelina, topónimos, lugares, como a antiga Alfândega Régia, centro nevrálgico do comércio marítimo no séc. XV, hoje centro de estudo, conhecimento e história viva de um passado glorioso. Por perto, lá está a nau quinhentista, símbolo da cidade sempre empenhada em dar "novos mundos ao Mundo", mandada construir pela Câmara e recriada segundo os preceitos da época. "Em dois anos foi visitada por 90 mil pessoas, entre turistas e estudantes das escolas", contou Paulo Costa Pinto, coordenador dos Museus de Vila do Conde.
Porto de pesca e destino turístico por excelência, a antiga vila quinhentista oferece um vasto conjunto de valores arquitectónicos, artísticos e patrimoniais únicos, entre os quais, sublinhe-se, o Mosteiro de Santa Clara, imponente, austero, valioso. Já foi centro de correcção de menores, agora, reconverteu-se em tribunal. No futuro, será pousada para gente abastada. Descendo a urbe investigada pelo notável homem de saber e cultura - Andrea da Cunha e Freitas - , o visitante não deixará de percorrer as várias capelas e igrejas forradas a talha dourada (será pecado não entrar na matriz de Vila do Conde) palácios, casas senhoriais reconvertidas em multifuncionais centros de artes e saberes.
A mais recente aquisição foi o antigo solar S. Sebastião, notável edifício do séc. XVII, reconstruído de forma admirável pelo arquitecto Maia Gomes, em Centro de Memória. De volta à paisagem urbana, o turista pode, ainda, observar o aqueduto de Santa Clara, visitar a Casa-Museu José Régio, o Museu de Arte Sacra, o Centro de Ciência Viva, antiga cadeia transformada em local de saberes, ou entrar na capela de Nossa Senhora do Socorro, miradouro da cidade banhada pelo Ave. Com tantos prazeres ao virar da esquina (atenção: a Feira de Artesanato termina amanhã) já só preciso tempo para fruir a paisagem.