
Livro de estreia de Natasha Brown converteu-se num inesperado best-seller, com direitos de publicação vendidos para mais de 15 países
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Autora de "Encontro", um dos mais elogiados romances ingleses de 2021, duvida da capacidade de transformação da literatura. Obra lida com uma jovem mulher negra que trabalha no mercado financeiro.
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São menos de 120 páginas, mas nelas cabe a abordagem de temas como a diversidade, a igualdade ou a superação, entrelaçados numa história narrada por uma jovem mulher negra de classe média alta que trabalha no mercado financeiro. Mas, sob essa vida aparentemente segura e tranquila, a protagonista vai acumulando dúvidas sobre o grau de esforço despendido para obter uma aceitação social que, para as restantes pessoas do seu meio, acontece de forma natural.
"Encontro", livro de estreia da Natasha Brown que se converteu num inesperado best-seller, com direitos de publicação já vendidos para mais de 15 países, chegou agora a Portugal, na coleção Contemporânea da Livros do Brasil.
Ainda mal refeita do êxito do livro, Brown explica, a partir da sua residência em Londres, que o acolhimento favorável à obra não é alheio "aos elementos universais" presentes na narrativa. "Mais do que o êxito em si, sinto-me grata porque o livro não ficou aprisionado em determinadas categorias ou tópicos, o que lhe permitiu chegar a diferentes culturas e países", explica.
Ao trazer para a primeira linha de debate uma abordagem pouco comum acerca da integração das minorias, "Encontro" foi saudado pela crítica devido ao seu registo "conciso e emotivo", sendo considerado um dos livros do ano por publicações como a "Vogue" ou "The Guardian". Sem negar a importância da discussão e do confronto de ideias, Natasha Brown relativiza a capacidade transformadora da literatura: "Esse é um efeito lateral. Seria um equívoco escrevermos tendo esse objetivo em mente e ainda mais acharmos que um livro vai ajudar a mudar algo. Um romance resulta de um acordo tácito entre autor e leitor. No fundo, tentamos extrair palavras para contar uma história. Por vezes, isso ajuda a que as pessoas mudem a sua perspetiva sobre um determinado assunto, mas por vezes não. No entanto, ambas são válidas".
"Sinto-me mais liberta"
Influenciada por autoras como Virginia Woolf, Natasha Brown não encaixa no protótipo das jovens escritoras a quem colam desde logo o rótulo de promessa. Por ter estudado Matemática em Oxford, mas também pelas funções ocupadas durante uma década no ramo financeiro. Para a romancista debutante, essa é uma falsa questão. "Não vejo a matemática e a literatura como áreas opostas. Sempre adorei escrever e mantive essa rotina regular, mesmo que numa base meramente recreativa", diz a autora, que se decidiu a aventurar pela escrita do primeiro romance após ter vencido uma bolsa literária.
Já embrenhada na escrita do sucessor de "Encontro", a britânica confrontou-se com a estafada ideia de que um autor não volta a experimentar a liberdade sentida aquando do primeiro livro. Nada mais falso, assegura. Se numa obra de estreia "os horizontes são mais estreitos e existe um número limitado de temas sobre os quais podemos escrever", o cenário atual é bem diferente. "Agora sinto-me mais liberta e capaz de abraçar outros desafios", revela. A confiança superior que agora sente poderá levá-la até a abraçar a escrita de um romance longo - a sua preferência enquanto leitora -, mas apenas o fará "se sentir que essa dimensão é justificada pela história".
