Ne-Yo e Doja Cat mostraram que não há festival sem música no último dia do Rock in Rio
Há dias em que apetece dançar. Seja porque é domingo, está sol, a companhia é boa, ou, simplesmente, surge de repente música que convida a mexer o corpo. Como os "clássicos clássicos" de Ne-Yo, o rap sem descanso de Doja Cat, os "hits" de Camila Cabello ou o ritmo acelerado do "coração partido" de Aitana.
Corpo do artigo
No derradeiro dia da edição de 2024 do Rock in Rio Lisboa, é bem possível que tudo se tenha conjugado para mostrar que, afinal e apesar de todas as diversões extraconcertos, o Parque Tejo, com lotação para 80 mil pessoas, recebeu mesmo durante dois fins de semana um festival de música e de verão.
Ainda a tarde ia a meio e já Ne-Yo aproveitava a maior enchente de um dia em que os bilhetes esgotaram para, logo a abrir o espetáculo, "incendiar" o recinto com "Closer", "clássico clássico" do álbum "Year of the Gentlemen" (2008), numa comunhão com o público que duraria até ao fim do concerto.
"Isto é uma celebração da vida, uma celebração do amor e uma celebração da música", avisou logo à partida, sem enganar ninguém, o norte-americano vencedor de três GRAMMY. "Sexy Love", do disco "In My Own Words", de 2006, foi outro dos muitos êxitos que agitaram a multidão. Da lista, fizeram ainda parte a interpretação ou, nalguns casos, reprodução de "hits" de R&B que Ne-Yo foi, ao longo dos anos, compondo para outros artistas, como o tema "Let Me Love You", popularizado, em 2004, por Mario.
A atuação deixou a fasquia elevada para as compatriotas que se seguiram no palco principal do Rock in Rio Lisboa e só Doja Cat, cabeça de cartaz por mérito próprio, conseguiu, a fechar a noite, corresponder às expectativas. Durante mais de uma hora, a californiana que conta com um GRAMMY e mais de 20 mil milhões de streams em todo o mundo, saltou quase sem pausas de canção em canção, com a multidão, tão ou mais enérgica que a artista que atuou pela primeira vez em Portugal, a acompanhá-la fielmente até final.
Get Into It (Yuh), do álbum "Planet Her", de 2021, e "Say So", do disco "Hot Pink, de 2019, foram alguns dos temas entoados e dançados pelos festivaleiros, em jeito de aquecimento quase desnecessário para o momento mais esperado: a interpretação de "Paint the Town Red", o mais recente single de Doja Cat e a primeira canção rap de uma artista feminina a solo a alcançar o primeiro lugar do TOP 50 - USA (EUA, de Estados Unidos da América, na sigla inglesa) do Spotify.
"Havana" salvou Camila Cabello
Entre os dois concertos, foi a vez de Camila Cabello subir ao palco Mundo, num espetáculo em que a artista norte-americana de origem cubana optou por apresentar sobretudo música nova no Rock in Rio Lisboa, para gáudio dos muitos fãs presentes no Parque Tejo e alguns dos restantes festivaleiros.
Com o lançamento do próximo álbum, intitulado "C, XOXO", agendado para daqui a menos de uma semana, Camila Cabello apressou-se a informar as dezenas de milhar de pessoas presentes que seriam "os primeiros" a ouvir os temas do novo disco. No final, diria que foi a multidão "perfeita" para tal, mas, durante a hora e meia que durou o concerto, nem todos terão pensado o mesmo.
Prova disso foi a forma como só à meia hora do primeiro concerto da artista em Portugal conseguiu entusiasmar fãs e curiosos ao interpretar o êxito "Havana", lançado em 2018 e com a participação, no original, de Young Thug. Muitos aproveitaram para mais um pezinho de dança, abandonado depois a assistência do palco Mundo, apesar dos esforços de Camila Cabello, igualmente estreante em Portugal, para agarrar o público. Entre declarações de amor sucessivas e elogios à doçaria portuguesa, Camila Cabello acabou, até, por comer um pastel de natal em pleno palco.
Já a cantora espanhola Aitana, que inaugurou o palco Mundo com uma moldura humana bastante menor, mostrou-se surpreendida por "ter tantas pessoas" a assistir ao seu concerto. Embora a maioria desconhecesse a sua música, poucos resistiram a dançar ao som dos ritmados desencontros amorosos da jovem catalã que, a determinada altura, chegou a perguntar onde estavam os "corações partidos".
Multidão nos palcos secundários
O desejo de os festivaleiros de, por uma tarde, libertarem as amarras do corpo foi, de resto, visível também nos espetáculos dos palcos secundários, onde atuaram, entre outros, Danni Gato, Luísa Sonza, Anselmo Ralph e Mc Cabelinho e aos quais acorreram bastantes mais pessoas do que no sábado, quando só os portuenses Ornatos Violeta e os britânicos James conseguiram atrair pequenas multidões.
O interesse dos festivaleiros em circular pelos três palcos, aliado à lotação esgotada, dificultaram, contudo, a circulação no Parque Tejo, em particular após o concerto de Ne-Yo. "Acho que não vou ao Anselmo Ralph. Fico aqui para a Camila Cabello", comentava com as amigas, ao olhar para a confusão em redor, uma jovem. Outros queixam-se de terem perdido, fruto do passo lento a que se saía das imediações do palco Mundo, o início dos concertos nos palcos Tejo e Galp.
Este último acolheu, de resto, o derradeiro espetáculo do Rock in Rio Lisboa, a cargo do DJ Pedro Sampaio, com dezenas de milhar de assistir. A organização já anunciou que o festival regressa em 2026. A previsão é de que se realize novamente no Parque Tejo, com o rio como pano de fundo.