Produção da Netflix é hino à ousada ideia de mudar pele e feições de um ícone de beleza.
Corpo do artigo
Não. Não é só um documentário sobre bonecas no seu mundo mágico cor-de-rosa. É tão mais do que isso. É sobre autoestima, empoderamento, sobre o impacto que ver a tonalidade da pele representada na sociedade tem na formação da personalidade. O documentário “A primeira Barbie negra” chegou à Netflix a 19 de junho para contar a história da boneca, de lábios carnudos e cabelo afro, que só conseguiu nascer 20 anos depois da bárbie de pele branca.
“Ela é negra, ela é bela, ela é uma bomba”. A frase escrita na caixa da boneca, lançada em 1980, arranca sorrisos a quem a recorda e enche de orgulho várias figuras afro-americanas que serviram de inspiração à Mattel, das maiores fabricantes de brinquedos do mundo. A produção, realizada por Lagueria Davis, conta com relatos de rostos bem conhecidos como a roteirista Shonda Rhimes, a bailarina Misty Copeland e a atleta olímpica Ibtihaj Muhammad, todas elas com a sua própria Barbie negra.
Uma das figuras centrais do documentário é Beulah Mae Mitchell, tia de Lagueria, uma apaixonada por bonecas que, em criança, chegou a trabalhar na cozinha de uma família branca, mas acabou por ingressar na Mattel, onde ficou entre 1955-1999. Enquanto ainda trabalhava na linha de produção – antes de ser promovida – a americana aproveitou o à-vontade que tinha com Ruth Handler, então presidente da empresa, para lhe fazer uma sugestão revolucionária. E se criassem uma Barbie negra? O pedido não foi atendido de imediato, mas foi o primeiro passo para a realização de um sonho coletivo.
Um aspeto marcante retratado no filme é o chamado “teste da boneca”, feito em 1940 pelo casal de psicólogos Kenneth Clark e Mamie Phipps Clark. Os investigadores mostraram quatro bonecas de pele diferente a crianças negras, descobrindo que a maioria delas atribuía características positivas às brancas e negativas às mais morenas. O estudo chocou a comunidade, colocando aos olhos de todos que os meninos negros achavam ser menos dignos do que os outros. Evoluímos, é certo. Mas o caminho a percorrer não tem fim.
“A primeira Barbie negra”
Lagueria Davis
Netflix