"Os homens também choram - Histórias da nova masculinidade" é o segundo livro assinado pelo jornalista Nelson Marques, para a Fundação Manuel Francisco dos Santos. A obra é apresentada esta terça-feira, às 19 horas.
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Nelson Marques iniciou a composição deste livro depois de publicar no semanário "Expresso" uma reportagem com o mesmo título, em março do ano passado. Esse trabalho motivou-o a escrever mais sobre o tema, tendo retratado um conjunto de homens e projetos que promovem formas de masculinidade mais diversas e inclusivas, como as Men Talks, o movimento "Não é normal" e os encontros "O homem promotor da igualdade".
Segundo o autor, o movimento Me Too, que deu voz a inúmeras mulheres vítimas de assédio e abuso sexual, tornou claro que "o paradigma de masculinidade tradicional a que muitos homens aspiram está esgotado".
Esse modelo tradicional de masculinidade prejudica não só o desenvolvimento social, diz o jornalista, como também o dos próprios homens. Desde cedo, os rapazes são ensinados a serem "homens de verdade", "aparentemente, homem que é homem não chora. Não exprime as suas emoções. Não tem medo."
Esta forma de educação faz com que os rapazes já cresçam com o pensamento de que devem ser superiores às raparigas, desde a forma como se comportam, ao trabalho que devem exercer no futuro, até à maneira como exprimem as suas emoções. "As mulheres e os homens seriam muito mais felizes se não os tentássemos definir desde o momento em que nascem", afirma ao JN.
Em "Os homens também choram", Nelson Marques partilha algumas histórias que mostram a chamada "nova masculinidade". Histórias essas de homens que fogem aos estereótipos e que expõem os seus momentos mais frágeis. Homens que, tal como muitas mulheres, também foram abusados, assediados, que também sofrem e que também sentem. "O livro parte de um jornalista que quer vincar um conjunto de histórias. Não sou um ativista, sou um jornalista que entendeu que pode usar a sua voz para passar uma mensagem."
Nas palavras de Nelson Marques, a revolução feminina já está em marcha, e é agora necessário iniciar a revolução da masculinidade que ajude a construir um mundo onde "os homens se sintam mais confortáveis para mostrarem que são sensíveis ou vulneráveis, para falarem abertamente sobre as suas emoções e serem agentes ativos na luta por uma sociedade mais justa e igualitária". "A revolução da masculinidade de que falo é exatamente a mesma que o feminismo. É exatamente a mesma luta", afirma o jornalista.
"Luta pela igualdade entre todos"
Em conversa com o JN, Nelson Marques esclarece que não pretende apresentar uma defesa pública em nome dos homens, nem colocar de novo os homens como "protagonistas" do tema, mas sim libertar os homens do velho ideal de masculinidade e convocá-los a juntarem-se à luta pela igualdade de género. "Não pretendo tirar o lugar de fala às mulheres, pretendo juntar a minha voz à de todas elas."
O autor defende também que é necessário que os homens questionem o lugar de privilégio que ocupam na sociedade e que assumam a responsabilidade de promover novos modelos de masculinidade sem se prenderem à ideia pré-concebida de como devem ser os "verdadeiros homens". E continua: "Só têm a ganhar em sair dessa caixa onde foram colocados. É uma luta que também os vai libertar".
Marques diz que já são muitos os que começaram esse processo de autoquestionamento e que participam ativamente na luta pela igualdade, mas acredita que só será possível derrubar a cultura sexista em que vivemos se muitos mais homens se juntarem, lado a lado, às mulheres nessa batalha. "Os homens têm que entender que não têm nada a perder, que isto não é uma luta para as mulheres lhes «roubarem» o poder, mas sim uma luta pela igualdade entre todos", defende.
Quando questionado sobre se sentiu medo em relação a como esta obra poderia ser interpretada, Nelson Marques responde que não se deixa levar pelo medo. "Vi isto como uma responsabilidade muito grande e como algo necessário. É o meu contributo, não espero que seja unânime, mas espero que faça sentido em algumas cabeças e que ajude nesta mudança."
A apresentação oficial do livro decorrerá esta terça-feira, dia 8 de junho, pelas 19 horas, com transmissão online no site da Fundação Manuel Francisco dos Santos. Irá contar também com a presença do humorista Diogo Faro e do investiagadorTiago Rolino e moderação da jornalista Francisca Gorjão Henriques.