As enchentes de público demonstraram que os nomes portugueses no cartaz já não são uma aposta, mas um valor seguro.
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A chuva já ameaçava cair sobre o antigo parque de campismo da Madalena há algum tempo, mas, na noite de sábado, foi só quando os irmãos Jared e Shannon Leto subiram ao palco MEO, no Marés Vivas, que ela começou a cair com mais intensidade, empurrada por um vento fresquinho vindo do lado do mar. Os portugueses Luís Trigacheiro, Buba Espinho, Nena e Joana Almeirante e Miguel Araújo e os Quatro e Meia deixaram o público com muito balanço e já não era uma "chuvita" que os podia parar. Acabou por ser uma grande tarde e noite de festival.
Há qualquer coisa de estranho num concerto de uma banda rock, com um palco enorme, em que se veem apenas dois artistas a tentar encher aquele espaço todo. Os Thirty Seconds to Mars, porém, conseguem, na maior parte do tempo, fazer esquecer esse detalhe. Na verdade, é mais a performance de Jared, do que a azáfama de Shannon, amarrado à bateria.
Jared Leto é uma explosão controlada de energia que se vai libertando nas doses certas para manter a malta das t-shirts “Thirty Seconds to f(…)ck Mars”, mas também muitos dos outros, em êxtase. Ele pedia braços no ar e a malta, 40 mil, cumpria. Ele dizia “jump, jump, jump”, e o povo saltava. Há umas dezenas de festivaleiros que nunca mais esquecerão a noite de 19 de julho de 2025, em que subiram ao palco com os Thirty Seconds to Mars e alguns até dançaram com Jared Leto. Uma estratégia para encher aquele palco enorme, mas que resultou em cheio.
Pelo público vai voltar
“This was the best show of the entire tour”, atirou à multidão em delírio. Jared não se cansou de elogiar Portugal e recordou que foi aqui que a banda esgotou os primeiros concertos. “Desde essa altura, em que ninguém falava de Portugal, voltamos muitas vezes e vamos continuar a voltar, agora que toda a gente quer vir para cá”, lembrou. Se for pelo público do Marés Vivas, voltam de certeza.
Ao cair da tarde, o palco MEO esteve entregue aos portugueses. A organização decidiu assim, o público marcou certo e assinou por baixo. A simplicidade de uma guitarra, umas teclas e dois tipos a cantar de forma desprendida, num palco tão grande, perante tanta gente, foi arrepiante. Que grande concerto deram Luís Trigacheiro e Buba Espinho, em estilo de reunião informal de amigos numa tasca. Nena e Joana Almeirante não deixaram cair a “vibe” e, principalmente em temas como “Portas do Sol”, deram provas de ter já uma multidão de fãs que canta a uma só voz.
Miguel Araújo, a comemorar 20 anos de carreira, juntou-se com os Quatro e Meia para esta edição do Marés Vivas. Foi uma prenda para o público que dificilmente poderia esperar uma tal sucessão de temas que já fazem parte do cancioneiro contemporâneo nacional - canções dos Azeitonas, Quatro e Meia, Miguel Araújo e António Zambujo -, mas também foi uma festa para os músicos que acabaram em palco aos saltos de cerveja na mão.