<p>À saída do colossal Castelo de Praga, virámos na esquina do palácio Schwarzenberg e seguimos, sempre a descer. Por ali chegaríamos à Ponte Carlos. Ainda não sabíamos, mas tínhamos entrado numa outra dimensão da capital da República Checa. Estávamos na rua Nerudova.</p>
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Aquele lugar era diferente. Conhecer Praga estava a ser avassalador: castelos dramáticos, igrejas colossais, arte de dimensões brutais, romance em todos os lugares. E ao descer a Nerudova Ulice, o encanto das pequenas coisas. A atenção voltava-se para os detalhes de um cenário pitoresco que conservava o tempo em que ainda não havia números a diferenciar as casas.
Então, no lugar dos algarismos havia - e há, desde 1770 - dísticos, símbolos esculpidos, desenhados e pintados sobre a entrada das casas. A casa que tem dois sóis diz a quem passa que ali nasceu o homem que baptizou a rua, Jan Neruda, jornalista e poeta do século XIX, o mesmo que inspirou o nome de Pablo Neruda.
Onde hoje está um restaurante luxuoso, era antigamente casa de fabricantes de violinos - a Casa dos Três Violinos. A Casa da Ferradura Dourada, da Águia Vermelha, do Cisne Branco, da lagosta Verde: cada simbologia tem uma história.
De repente, a descida da Nerudova era interompida por uma estranha forma de falar inglês. Quando demos conta, o empregado que andava a angariar clientes para o seu restaurante já nos tinha sentado a uma mesa e colocado as listas nas mãos. Devorámos todos os detalhes daquela sala rústica e escura. O 'raptor' explicava que o tecto do restaurante datava do século XVII. Era belíssimo, iluminado pela luz fraca de um lustre de cristal.
A 'experiência Nerudova' mostrou-nos que a grandiosa Praga gostava que lhe apreciassem as pequenas coisas. Quando chegámos à Ponte Carlos, um pormenor destacou-se entre as 30 estátuas da mais velha ponte da cidade. A minúscula figura de São Nepomuceno brilhava no meio de uma escultura já negra, graças aos que pousam as mãos sobre ela para ter a sua benção.