
Os 5ª Punkada têm na sua composição dois elementos com deficiência mental e outras duas com paralisia cerebral
Facebook / 5ª Punkada
“Festival Sobe à Vila” terminou ontem e durante quatro dias serviu de aquecimento para o grande evento de Paredes de Coura, na Praia Fluvial do Taboão, que começa esta quarta-feira.
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“Gostava que viessem para verem que somos capazes de fazer música”, ouviu-se algures no documentário de 20 minutos que, por volta das 23.30 horas começou a rodar no palco Super Bock do “Festival sobe à Vila”, em Paredes de Coura. “O que é isto?” “Não estou a entender o que vamos ver.” “Ficamos para ouvir isto?” As dúvidas eram muitas, mas todas parecem ter ficado dissipadas assim que se fez ouvir a primeira nota.
Retira-se a tela branca e, por detrás, surge Fausto Sousa, numa cadeira de rodas. A sua presença é prontamente sentida pela letra que rapidamente começa a cantar e pelos movimentos energéticos que faz para acompanhar o ritmo que é ouvido. A verdade é que não é apenas com a voz que o membro dos 5ª Punkada, o único que aqui está desde a formação do grupo, participa na faixa de abertura do concerto (e correspondente do álbum). Este controla também um aparelho que transforma cada mexer de braço e de corpo num som.
Rapidamente a estranheza de uma voz muitas vezes imperceptível nas palavras e de um corpo que desajeitadamente se mexe em prol do prazer pela música dá lugar a cabeças a abanar e a comentários surpresos. “Isto é muito bom.” “Grande cena.” “Vamos ficar para ouvir.” Palmas, palmas, palmas. Não faltaram ovações, a primeira das quais quando, novamente Fausto Sousa, tal qual uma estrela de rock, grita “boa noite”. Do final da rua Conselheiro Miguel Dantas até às laterais do palco foram várias as vozes que responderam com euforia.
A interação nunca mais parou. “Somos punks ou não?” é o nome do documentário que deu o mote ao concerto dos 5ª Punkada que atuaram ontem na vila de Paredes de Coura, numa noite que serviu de aquecimento para os muitos festivaleiros que já por cá andavam. As músicas que se ouviram durante uma hora de concerto são do álbum homónimo ao vídeo, o primeiro da banda de rock, lançado em 2021.
E num ano em que o Festival Paredes de Coura festeja um aniversário redondo, os 5ª Punkada andam lá perto. Comemoram 29 anos de existência, menos um do que o evento que desde 1993 acontece nas margens do rio Taboão. Mais recentes são os restantes artistas que acompanham Fausto. Na guitarrista, Jorge Maleiro. Nas teclas, Fátima Pinho. Estão ainda acompanhados de um baixista, de um outro guitarrista e de um baterista. Mas os nomes realçados são os protagonistas.
Porquê? São a alma da banda. Os 5ª Punkada, recorrendo a instrumentos convencionais e outros adaptados, têm na sua composição dois elementos com deficiência mental e outras duas com paralisia cerebral. O grupo nasceu no seio da Associação de Paralisia Cerebral de Coimbra.
O Festival Paredes de Coura arranca hoje com uma mais edição. Para o primeiro dia são aguardamos nomes como Jessie Ware, Yo La Tengo ou Snail Mail.

