O pianista russo Grigori Sokolov esteve, quinta-feira à noite, cerca de duas horas e meia no palco principal da Casa da Música, no Porto. Os seis "encores" que entendeu protagonizar (e ainda mais regressos só para agradecer os aplausos) ilustram os contornos da performance de nível superior que ofereceu à lotada plateia.
Com Sokolov entrámos no mundo dos músicos de dimensão ímpar. Neste universo, os intérpretes tocam como deuses, são perfeitos e produzem sonoridades que não estão ao alcance do comum dos mortais.
Na primeira parte, o génio russo tocou "Sonata nº 2 em Lá maior, op.2, nº 2" e "Sonata nº 13 em Mi bemol maior, op.27, nº1", "Sonata quasi uma fantasia", de Beethoven. Aqui iniciamos uma viagem em que o pianista parecia apenas acariciar o teclado. A estética beethoveniana, que conhecemos através de centenas de intérpretes, tornava-se ainda mais fascinante.
Em certos momentos, pela forma como Sokolov evolui nas peças, a perplexididade toma-nos os sentidos: como é que se consegue chegar àquele nível de excução ? E é impressionante como tudo acontece de uma forma natural, como se se tratasse da tarefa mais fácil deste mundo.
Os acordes poderosos com que começa o primeiro andamento da "Sonata em Ré maior, op. 53, D. 850", de Schubert, que preencheu a segunda parte, seriam o prenúncio de mais um desempenho nos domínios da excelência.
Em resumo, uma passagem de Sokolov pelo Porto para ficar nos anais da Casa da Música.
