No segundo dia do Tribeca houve ofertas, estreias, emoções, cinema, política e humor
Este sábado, Dino D’Santiago entregou uma carta e um quadro a Whoopi Goldberg, Griffin Dunne e atores nacionais falaram da cultura do cancelamento. De Niro voltou a encher salas e veio uma confirmação: o Tribeca Lisboa volta em 2025.
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Na sua estreia em Lisboa, o Festival de Cinema Tribeca teve vários pontos altos, diversos dos quais associados a Whoopi Goldberg. Depois de protagonizar uma conversa hilariante, mas também, em certos momentos, tocante, com Ricardo Araújo Pereira, na sexta-feira, sobre humor e saúde mental, no sábado, a diversidade foi chamada a palco e a interação com Dino D’Santiago terminou com uma carta, uma oferta, um abraço e uma ovação.
Horas depois, o Grupo Impresa anunciava, com Robert De Niro e Jane Rosenthal (fundadores do Tribeca Nova Iorque há 22 anos) em palco, que o festival volta a Lisboa em 2025.
Antes, no segundo e último dia do primeiro Tribeca Lisboa, falou-se novamente de comédia, agora no sentido do que, afinal, tem graça hoje em dia: o que nos faz rir, como tem o humor evoluído na história do cinema e na indústria, como está agora e como se relaciona com storytelling, sobretudo num contexto de cultura cancelada, woke, do politicamente correto, da tendência a querer por vezes até apagar a história.
Tudo isto foi tema e muito mais, num debate dinâmico entre Griffin Dunne, ator de “Um lobisomem americano em Londres” e de “Nova Iorque fora de horas”, os portugueses Afonso Pimentel, Rui Maria Pêgo, Pêpê Rapazote e a moderação de Joana Cruz.
Durante uma hora, houve tempo e espaço para debater os temas propostos e ainda os limites do humor, política, censura – e, de novo, a empatia, palavra recorrente nessa edição, neste caso no sentido de como pode ser a chave para compreender o poder do humor e para o saber utilizar.
“A comédia tem de vir de um lugar de amor, não de ódio”, foi concordado por todos os convidados, enquanto se falava sobre como o humor existe, ou pode existir, em tudo; e sobre intervenientes da comédia ao longo da história, de Robin Williams aos Monty Python, Charlie Chaplin, Jerry Seinfeld, Ricky Gervais, Dave Chapelle.
Chapelle é, aliás, para Griffin Dunne e Afonso Pimentel, um exemplo de como se pode fazer humor sem ter medo: “ele sabe os terrenos por onde está a entrar e entra. Há que admirar, eu admiro”, disse Dunne, referindo que “não se consegue ser engraçado e andar na linha da preocupação em ofender pessoas”. Até porque, diria mais à frente, “as pessoas encontram sempre novas formas de se sentirem ofendidas”.
Para o ator norte-americano, em tempos em que muitos sentem que “têm de estar sempre a espreitar por cima do ombro”, a comédia parece por vezes estar um “pouco perdida”.
Whoopi e Dino
Antes, houve então o painel que juntou Dino D’Santiago a Whoopi Goldbeg, num debate sobre a forma como os novos formatos de storytelling na TV, cinema, música e animação têm o poder da inclusão e de representar comunidades diversas, num mundo cada vez mais polarizado.
Tal como acontecera na véspera numa talk com Ricardo Araújo Pereira, a atriz norte-americana voltou a ser ela própria, oscilando entre o humor – do tipo que arranca gargalhadas constantes e espontâneas ao público – temas mais sérios e até a emoção.
No final, Dino d Santiago entregou-lhe uma carta, que depois leu em palco, em que falava da sua experiência e do seu crescimento, como viveu “muito tempo como um eco de crenças que nunca soaram minhas” e onde concluía: “o que não sabia é que a cor do breu não é um erro, mas uma canção que o mundo ainda não aprendeu a cantar”.
A isto, Whoopi respondeu ser “magnifico, é como poesia e é a tua vida, a minha vida”, disse. Dino ainda tinha, porém, uma surpresa e ofereceu à norte-americana um quadro feito por si, num momento que terminou com um abraço e uma ovação do público.
Sábado foi também dia para a estreia nacional de "Ezra" de Tony Goldwyn, história baseada em factos reais sobre o pai de uma criança autista. O visionamento da produção, com Robert De Niro no elenco e conversa com o ator no final, teve filas à porta; como as que se chegaram a formar na entrada da tenda onde De Niro e Jane Rosenthal fizeram a sua última apresentação formal este ano: um painel focado na forma como as grandes histórias que crescemos a ver no ecrã, resistem ao teste do tempo.
O Tribeca Lisboa volta então em 2025, mas as datas certas ainda não foram anunciadas.