North Festival cancela edição deste ano, culpa Boavista e exige um milhão de indemnização
Festival de música iria realizar-se em maio no Estádio do Bessa, mas o clube não cumpriu o contrato assinado. O caso segue para tribunal.
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Ivete Sangalo, Ornatos Violeta e o projeto especial de bandas da celebração dos 20 anos da série de TV “Morangos com Açúcar” já não vão atuar no North Festival. A sétima edição do festival de música do Porto, que iria decorrer no Estádio Bessa nos dias 23, 24 e 25 de maio, foi cancelada – apurou o JN junto da Vibes & Beats, entidade organizadora.
“É um balde de água gelada”, disse ao JN o promotor Jorge Veloso, que culpa o Boavista Futebol Clube de “incumprimento de contrato”. “Temos contrato assinado com o Boavista, acordámos o pagamento de 115 mil euros pelo uso do Estádio do Bessa Século XXI, já pagámos inclusive a primeira prestação do contrato, no valor de 20 mil euros, e agora, sem culpa nenhuma, somos obrigados a cancelar o nosso festival”, revelou o organizador, classificando o caso como “um episódio lamentável e de grande irresponsabilidade da parte do Boavista”.
Boavista tem “problemas internos”
Segundo documentos consultados pelo JN, o contrato foi celebrado no dia 16 de janeiro entre a Vibes & Beats e o Boavista Futebol Clube, “mas houve leviandade, e grande irresponsabilidade, da parte de quem gere o Boavista”, acusa Jorge Veloso. O Boavista Futebol Clube não é o dono do Estádio do Bessa Século XXI, que pertence à SAD do Boavista, e teria de pedir autorização a essa entidade para alugar o espaço – o que não terá acontecido.
“Foi o administrador judicial do Boavista que nos alertou para este facto”, revela Veloso, “o que nos deixou muito surpreendidos. O Boavista, como é público, atravessa graves dificuldades financeiras e encontra-se debaixo de um Processo Especial de Revitalização [uma alternativa ao processo de insolvência e à qual as empresas em situação económica difícil, ou de falência iminente, podem recorrer]. Mas a SAD não pretende cumprir o contrato”, diz o promotor da Vibes & Beats”.
Aparentemente, “o cancelamento deve-se a problemas internos do Boavista, relacionados com a autorização da cedência do recinto, bem como o agendamento do Playoff/Liguilha da 1.ª Liga para o mesmo fim de semana do festival, impossibilitando a realização do evento conforme planeado e contratualizado”, esclarece o organizador. E sublinha: “Não houve boa vontade da parte do Boavista. Tentamos tudo, mas sem resultados”.
O JN quis ouvir o presidente da SAD do Boavista, mas não obteve resposta.
“Estamos desolados com toda esta situação”, continua Jorge Veloso. “Após longos meses de trabalho, fomos obrigados a tomar uma decisão difícil para nós e cancelar a edição de 2025 do North Festival”.
Indemnização milionária à vista
O caso não ficará por aqui: a Vibes & Beats, apurou o JN, pretende recorrer aos tribunais para ser ressarcida dos “graves e avultados prejuízos que tudo isto nos provoca”.
Além da “óbvia devolução dos 20 mil euros já adiantados ao Boavista”, o organizador do North Festival vai “exigir uma indemnização por danos de imagem e pelo trabalho de vários meses, que envolveu dezenas de pessoas e sinalização de bandas contratadas e a contratar”. O valor em causa pelos alegados danos “pode chegar à ordem de um milhão de euros”, afiança Jorge Veloso. Além de Ivete Sangalo, Ornatos Violeta e das bandas dos “Morangos com Açúcar”, a organização já tinha apalavrados "três cabeças de cartaz internacionais".
“A justiça poderá tardar, mas há de chegar. Temos total confiança nos nossos argumentos jurídicos, a razão está toda do nosso lado. A única dúvida que temos, se me é permitida a ironia, é se o Boavista, face aos problemas financeiros que atravessa, ainda existirá quando a justiça nos der razão”, conclui o responsável da Vibes & Beats.
Devolução de bilhetes “em breve”
“Queremos assegurar a todos que já estamos a trabalhar com total empenho e determinação na edição de 2026 do North Festival, comprometidos em proporcionar um evento ainda mais especial”, diz um comunicado do festival. O local onde irá decorrer ainda não é conhecido.
“Para aqueles que o desejarem, os bilhetes adquiridos para o North Festival continuarão válidos para os novos espetáculos”, diz o comunicado da empresa organizadora. “Alternativamente, disponibilizaremos todas as informações sobre o processo de reembolso [do valor pago pelos bilhetes] nos nossos canais oficiais muito em breve”. As entradas para o festival custavam 90 euros, havendo ainda a opção pelo bilhete VIP, por 180 euros.
Com realização anual há sete anos, o North Festival, que já passou pela Alfândega do Porto e pelo Prado de Serralves, já trouxe ao Porto artistas como Prodigy, Robbie Williams, Franz Ferdinand, Keane, Nelly Furtado ou Ivete Sangalo, com uma audiência média de 40 mil espetadores por edição, segundo dados do organizador.