Físico italiano Carlo Rovelli discorre sobre ciência, arte e humanismo em "Há lugares no mundo onde a gentileza é mais importante do que as regras", um livro obrigatório.
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Até muito recentemente, a figura clássica do cientista estava ligada à de um indivíduo absorto e excêntrico, que, embora dominasse uma área concreta do saber, estava como que de costas voltadas para a realidade do mundo. Um alienado, portanto.
Se esse estereótipo pertence hoje, felizmente, ao passado, muito se deve à ação de personalidades como Carlo Rovelli, o físico e filósofo italiano cujo trabalho de divulgação científica tem permitido a um número alargado de leigos uma compreensão mais vasta sobre o cosmos e os múltiplos mistérios que o rodeiam.
Depois de livros eminentemente científicos (ou de divulgação científica) como “Buracos brancos” ou “O abismo vertiginoso”, Rovelli reuniu em “Há lugares no mundo onde a gentileza é mais importante do que as regras” algumas dezenas de artigos publicados na imprensa (italiana e não só) ao longo da última década. Trata-se de um volume precioso e de leitura altamente recomendável, em que o autor discorre livremente sobre a ciência, a arte ou a política, mas sem perder nunca de vista um humanismo lúcido que dispensa falsos samaritanismos.
Autêntico poeta do cosmos que defende uma visão integrada do saber, sem as limitativas compartimentações habituais, o físico quântico mostra-nos como as divisões e antagonismos são a antítese da evolução humana, lembrando o modo como a cooperação foi decisiva para o progresso em várias áreas.
“Se há alguma possibilidade de futuro para a Humanidade, ela depende em exclusivo da capacidade de fazer prevalecer a colaboração sobre estas divisões devastadoras”, escreve num ensaio em que assinala os 50 anos da chegada do Homem à Lua.
Há muitos mais mundos nestas páginas. Alicerçando-se numa sólida cultura científica e humanista, o autor de “A realidade não é o que parece” conduz-nos por entre as armadilhas da religião, explica-nos por que entende que o fascismo se baseia, afinal, no medo e não na força, convocando ainda de permeio figuras como Dante, Arquimedes, Stephen Hawking ou Charles Darwin. Um primor.