Ricardo de Campos é o grande vencedor desta XIV edição do evento. Trabalhos podem ser vistos em Lugo até ao final do ano.
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O Eixo Atlântico do Noroeste Peninsular é uma estrutura sem fins lucrativos, que nasce em 1992 para promover e apoiar iniciativas que têm como objetivo a cooperação entre o Norte de Portugal e a Galiza, inspirado, seguramente, pela entrada de Portugal e Espanha na CEE, a 1 de janeiro de 1986, que determina o fim das fronteiras. No primeiro semestre de 1992, Portugal assumiu mesmo a primeira presidência do Conselho das Comunidades Europeias, que tinha como lema “Rumo à União Europeia”. A Presidência Portuguesa ficou marcada pela assinatura do Tratado da União Europeia, em Maastricht, e pela Assinatura do Acordo para o Espaço Económico Europeu, no Porto. Podemos incluir a criação do Eixo Atlântico do Noroeste Peninsular nesta demanda.
O número de municípios que integram esta estrutura foi aumentando, sendo a adesão voluntária, e, em 1997, cria-se a I Bienal de Pintura do Eixo Atlântico, com o objetivo que promover a criação e os artistas contemporâneos residentes na Eurorregião. O modelo desta bienal assenta na abertura de um concurso, sendo a seleção de obras, a integrar uma exposição itinerante, feita por um júri com elementos que representam entidades dos dois lados da fronteira que faz posteriormente a premiação, atribuindo um primeiro e segundos prémios, bem como uma distinção para jovens artistas. A exposição, onde são revelados os prémios, inaugura na cidade que, naquele ano, é Capital de Cultura do Eixo Atlântico e depois itinera por vários municípios durante, sensivelmente, um ano.
Este ano, a XIV edição da Bienal de Pintura do Eixo Atlântico recebeu 105 candidaturas, tendo sido selecionadas 25 para a exposição que inaugurou no passado dia 23 de novembro, n’ O Vello Cárcere, na cidade Lugo, na Galiza. “Nem uma passa?” de Gonçalo Ribeiro venceu o prémio jovens artistas; “Dactilografia de um sonho” de Margarida Gomes, o segundo prémio e “O corpo da paisagem” de Ricardo de Campos, foi a grande vencedora desta edição, consagrando o percurso de persistência do artista natural de Monção. “O corpo da paisagem” faz parte da produção recente de Ricardo de Campos, com foco na paisagem urbana em transformação, num elogio à máquina enquanto extensão do corpo e da ação humana sobre a natureza. O artista abandonou a representação da figura humana durante o período pandémico, consequente de uma observação do espaço habitado onde apenas se fazia sentir o barulho das obras que remodelaram, de norte a sul do país, cidades e vilas.
O Vello Cárcere, Antigo Cárcere do Partido Xudicial de Lugo, é um dos motivos que justificam um salto a Lugo. Trata-se de um fabuloso edifício, projetado pelo arquiteto basco Nemesio Cobreros y Cuevillas, em 1878, situado na zona da muralha de Lugo, classificada pela UNESCO como Patrimonio da Humanidade. Trata-se de uma cadeia modelo no contexto espanhol e carrega uma História particularmente negra, nomeadamente, durante a Guerra Civil Espanhola (1936-39). Em março de 2017, após um cuidado projeto de reabilitação, cofinanciado pela União Europeia, abriu portas como Centro Sociocultural e o que outrora eram celas, são hoje salas de exposição que, até 30 de dezembro de 2023 acolhem esta exposição. Seguem-se itinerâncias para Braga, Bragança, Maia, Ribeira (Galiza), Felgueiras, Vila Real, Vila Nova de Gaia, Barcelos e Monforte de Lemos (Galiza), onde termina em outubro de 2024.
O modelo peculiar desta bienal, sem paralelo noutras que se realizam em Portugal e além-fronteiras, tem a particularidade de nos convidar à descoberta do território transfronteiriço, com ações em diferentes municípios de baixa densidade populacional, num verdadeiro fomento da descentralização cultural.
XIV Bienal de Pintura
do Eixo Atlântico
O Vello Cárcere (Lugo)
Até 30 de dezembro