Norte-americano Drew Klein é agora o único diretor diretor artístico do Teatro Municipal do Porto. Em entrevista ao JN, destaca os melhores criadores na rentrée portuense: Trajal Harrell, Susana Chiocca, Carolina Bianchi, Faye Driscoll e Apichatpong Weerasethakul.
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São três estreias já esta sexta-feira: “The Köln concert”, de Trajal Harrell e do Schauspielhaus Zürich Dance Ensemble, no Teatro Rivoli (19.30 horas); “Mal de Ulisses”, de Rui Catalão, no Teatro Campo Alegre (21.30 horas); e o concerto de Bill MacKay (22.30 horas), no Understage do Rivoli, marcam o arranque da 10.ª temporada no Teatro Municipal do Porto (TMP).
A nova temporada foi desenhada ainda pela anterior codireção de Drew Klein e Cristina Planas Leitão, que cessou funções em julho. Klein, que é agora o único diretor artístico, está acompanhado na gestão executiva por Francisco Malheiro, ex-diretor-executivo da área de artes performativas da empresa municipal Ágora.
Em entrevista ao JN, Drew Klein não antecipa mudanças fraturantes: “O objetivo é o mesmo de sempre, criar um programa artístico atrativo no TMP, no DDD - Festival Dias da Dança e no Campus Paulo Cunha e Silva, que reúna espetáculos e perspetivas locais e internacionais. A saída de Planas Leitão precipitou uma mudança no modelo de codireção e, embora haja uma maior separação das componentes de direção artística e direção executiva, eu e o Francisco Malheiro continuaremos a trabalhar em estreita articulação”.
Durante mais de um ano, o programa do TMP foi concebido em colaboração, "portanto, os espetáculos refletirão o trabalho partilhado”, revelou. “Não existe um tema programático. É sempre um caleidoscópio de práticas, escalas e histórias”, diz Drew Klein.
Olhando para o que aí vem, acrescenta: “Os nossos públicos devem sentir-se confiantes de que irão encontrar alguns dos espetáculos mais experimentais e artisticamente diversificados que este Teatro alguma vez conheceu. Sinto-me motivado a trabalhar com artistas que desafiam preconceitos”, disse.
Dois espetáculos de realidade virtual
A nova temporada tem vários projetos de intimidade partilhada entre a obra e o público. “Como ‘Guilty landscapes: episode I Hangzho', do Studio Dries Verhoeven (dias 24 a 28 de setembro) e “Bitcho - Supra” (20 e 21), de Susana Chiocca, duas obras que convidam, uma ou duas pessoas de cada vez, para experiências mais singulares”.
“Bitcho - Supra” é uma das duas obras em realidade virtual apresentadas este ano, juntamente com “A conversation with the sun”, de Apichatpong Weerasethakul (23 a 26 de outubro), “uma obra absolutamente deslumbrante que me fez sentir completamente transportado para outro mundo”, diz Drew Klein.
Escala local é global
Novembro está reservado para espetáculos femininos poderosos, “com o regresso de Faye Driscoll e o seu extraordinário novo trabalho ‘Weathering’ (8 e 9 de novembro), e com ‘Capítulo I: a noiva e o boa noite Cinderela', de Carolina Bianchi” (22 e 23 de novembro)”, disse. A obra teatral “cruza temas como o feminicídio, os desafios da criação artística feminina e a história pessoal, tornando-se dos espetáculos mais falados do Mundo, desde a sua estreia no Festival de Avignon”.
Quanto ao equilíbrio com as estruturas que trabalham a partir da cidade, Drew Klein disse que “muitas vezes depende de calendários sobre os quais temos pouco controlo. Portanto, não haverá uma definição rigorosa entre internacional e local, pois não creio que essa seja uma linha particularmente importante”.
Mas, destacou o “recente sucesso da delegação portuguesa na Tanzmesse (na Alemanha), numa parceria do TMP e de O Espaço de Tempo com a Direção-Geral das Artes, demonstrando que o país é a casa de uma comunidade incrivelmente robusta de artistas que merecem visibilidade”. E em festivais como o DDD, “desde o início que os trabalhos de artistas locais estão um pouco mais concentrados”.
Manter "os preços acessíveis"
Quanto à dimensão global do TMP, “apresentaremos espetáculos de artistas dos cinco continentes. É igualmente essencial, uma vez que traz as práticas e os temas do Mundo até à nossa porta, introduzindo novas ideias e estilos, mas também, idealmente, demonstrando que há mais a ligar-nos do que a dividir-nos”, defendeu o diretor artístico.
Entre outras práticas, o TMP decidiu “manter os preços dos nossos bilhetes a um nível que acreditamos ser acessível, eliminando as restrições financeiras que podem dificultar a participação”, concluiu.