Certame dirigido pelo encenador português realiza-se em França de 29 de junho a 21 de julho, com duas produções nacionais destacadas entre 35 peças. Bailarino e coreógrafo Boris Charmatz é a estrela convidada.
Corpo do artigo
Uma produção de Tiago Rodrigues, "Hécube, pas Hécube", e o espetáculo "Terminal (O estado do mundo)", de Inês Barahona e Miguel Fragata, marcam a participação portuguesa na edição deste ano do Festival d'Avignon, em França.
O ator, encenador e dramaturgo português Tiago Rodrigues, que é também diretor do Festival d'Avignon, apresentou o programa da 78.ª edição do festival, que decorre de 29 de junho a 21 de julho naquela cidade francesa.
Subordinado ao tema "Chercher les mots" ("Procurar as palavras"), o certame terá no "coração da programação" 37 projetos artísticos, que consistem em 35 espetáculos e duas exposições, revelou o diretor.
A língua espanhola é a convidada desta edição, com 30% da programação composta por obras criadas por artistas de língua espanhola, oriundos de países como Espanha, Argentina, Chile, Peru, Bolívia, México e Colômbia.
Uma mulher que perdeu tudo
"Hécube, pas Hécube", que estará em cena entre 30 de junho e 16 de julho, é uma coprodução de Portugal e França, baseada na obra do poeta grego Eurípides, que conta a história de Hécuba, uma mulher que perdeu tudo e que reclama justiça, após a queda de Troia.
A tragédia de Eurípides reflete a vida pessoal da atriz que interpreta Hécuba, numa adaptação moderna para a Comédie-Française, escrita e dirigida por Tiago Rodrigues, com cenografia de Fernando Ribeiro, figurinos de José António Tenente, luz de Rui Monteiro, e música e som de Pedro Costa.
O outro espetáculo português que subirá ao palco no Festival d'Avignon, "Terminal (O estado do mundo)", é uma produção conjunta dos diretores artísticos da companhia Formiga Atómica, Inês Barahona, que escreve o texto, e Miguel Fragata, responsável pela encenação.
Segundo espetáculo de um díptico em torno da crise climática iniciado em 2021 com "O estado do mundo (quando acordas)", a obra tem estreia marcada para este sábado no Teatro Municipal de Ourém.
Depois de passar por outros palcos nacionais, "Terminal (O estado do mundo)" chegará a Avignon no dia 15 de julho, ficando em cena até dia 21.
Relatar o fim do planeta
Este duo português regressa ao Festival d'Avignon, depois de uma passagem em 2018, com "uma nova criação que questiona se a crise climática não é também uma crise da imaginação", explicou Tiago Rodrigues, adiantando que "Terminal" "utiliza o teatro e a música para relatar o fim do planeta".
O espetáculo "Terminal" aponta para uma ideia de fim, mas também para uma ideia de ligação a outra dimensão, outra linguagem.
"Se queremos concentrar-nos, por um lado, na ideia da morte de uma certa visão da humanidade, que se encontra na devastação da natureza por toda a parte - essa festa despudorada do ser humano enquanto tudo arde -, queremos também atravessar o terminal para o futuro, procurando vislumbrar uma nova cosmogonia a emergir por força da ameaça da extinção humana", lê-se na descrição da peça disponível no site dos produtores.
Também há cinema
Inês Barahona e Miguel Fragata participam ainda noutra rubrica do festival, dedicada ao cinema, intitulada "Territórios cinematográficos", um espaço de diálogo entre as artes do espetáculo e o cinema, criado em colaboração com os cinemas Utopia de Avignon.
Trata-se de um encontro diário de projeções de filmes, no final do qual o público se encontra e troca ideias com artistas de teatro, coreógrafos, cineastas, ativistas, críticos e jornalistas convidados para o Festival d'Avignon.
Os filmes da autoria da dupla portuguesa intitulam-se "Retour au futur -- Avignon" e "Improbable dos à dos" e serão apresentados no dia 17 de julho, seguidos de uma conversa com o público.
Boris Charmatz em destaque
Tiago Rodrigues anunciou ainda como "grande novidade" a presença de um "artista cúmplice": o bailarino e coreógrafo francês Boris Charmatz, diretor artístico do Tanztheater Wuppertal Pina Bausch, que apresentará três projetos.
Tiago Rodrigues pretende que esta iniciativa do "artista cúmplice" passe a fazer parte das edições do festival e se repita todos os anos.
O Festival d'Avignon é um certame anual de artes, fundado em 1947 por Jean Vilar, e é o festival mais antigo de França.
Em julho de 2021, Tiago Rodrigues, até então diretor artístico do Teatro Nacional D. Maria II (desde 2014), em Lisboa, foi nomeado pela ministra francesa da Cultura como novo diretor do Festival d'Avignon, sucedendo a Olivier Py, tendo assumido funções n o dia 1 de setembro de 2022.