“Pintura-poesia: livres d’artiste de Joan Miró” abriu esta quarta-feira e está patente na Casa de Serralves.
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“Pintura-poesia: livres d’artiste de Joan Miró” é a nova exposição na Casa de Serralves, no Porto, com curadoria de Robert Lubar Messeri, dedicada ao disruptivo surrealista catalão. Philippe Vergne, diretor artístico de Serralves, diz que o curador, supremo especialista em Miró, “é uma espécie de Natal, impostos e Páscoa: aparece sempre uma vez por ano”.
O desenfado de Vergne ilustra as várias iniciativas executadas sobre a Coleção Miró, que foi cedida ao Porto pelo Estado Português e está depositada em Serralves por 25 anos.
A exposição revela dezenas de litografias e quadros e organiza um outro cosmos sobre Miró como artista gráfico, no conceito “livros de artista”. Messeri explica: “Gosto de exposições pequenas em que há um foco sobre a obra de determinado autor. Entre os livros estão: ‘ll était une petite pie’ (1928), de Lise Hirtz; ‘Parler seul’ (1948-50), de Tristan Tzara e ‘Mà de proverbis’ (1970), de Shúzóō Takiguchi, demonstrando a evolução de Miró como artista gráfico.
Na mostra observamos a sua estreita relação com poetas e o seu interesse na relação texto/imagem”, diz o curador. O livro de Hirtz é o primeiro: a poetisa e artista francesa associada aos círculos surrealistas desempenhou um papel relevante como colaboradora e influenciadora no desenvolvimento do movimento.
A obra “Il était une petite pie” é notável pelo tom poético e inovador, desafiando as convenções da literatura infantil tradicional, incorporando elementos do surrealismo e do dadaísmo.
Já a sala dedicada à obra “Parler seul”, de Tristan Tzara, tem um outro caráter: o texto é escrito num estilo fragmentado e abstrato, e explora o jogo entre linguagem, significado e silêncio. A obra foi escrita após um esgotamento de Tzara e emprega uma linguagem que reflete o seu interesse por associações livres, característica do surrealismo e das experiências do pós-guerra. Essa síntese poderosa da visão de mundo de Tzara combina a sensibilidade poética com a sua crítica.
Já o trabalho gráfico mais recente é feito em parceria com o japonês Takiguchi, o primeiro a escrever uma monografia sobre Joan Miró. O poeta foi dos primeiros a introduzir o surrealismo no país, servindo como elo entre as vanguardas artísticas ocidentais e a cultura do Japão.