“72 Seasons” é o melhor e mais consistente trabalho da banda de Los Angeles desde o “Black album”
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“72 Seasons”, 72 estações ou 18 anos é supostamente o tempo durante o qual, após nascerem, os humanos moldam o seu ser para o resto da vida. A explicação, pelo próprio James Hetfield, do título do álbum remete ainda para os estudos sobre a influência dos pais na formação dos homens e no modo como experiências ocorridas no nosso desenvolvimento são cruciais para a nossa perceção futura do mundo.
A perspetiva “rousseauniana” que inspira o mais recente trabalho dos Metallica aplica-se não só ao ser humano, como também à própria banda, presa – no bom sentido – às suas influências e ao estilo que a catapultou para a fama.
É certo que houve ali um hiato no fim do século XX, início do século XXI que terá deslumbrado e anestesiado a banda em termos criativos. Porém, ultrapassado esse inebriamento “mainstream”, a banda regressou às suas raízes, ao conforto das suas 72 estações, e a um registo mais cru e intenso, mais “thrash” e bem menos polido.
“72 Seasons” segue na linha desse retorno aos riffs pesados, pesadíssimos e acelerados. Não traz muitas novidades, mas, depois de 42 anos e já com dois sexagenários na banda, ninguém as esperaria, bem pelo contrário.
Tal como antigamente, predominam as músicas longas, com várias alternâncias de ritmo, que vão evoluindo, ganhando corpo e peso, até atingirem a maioridade. Destaca-se o tema final – “Inamorata” – com mais de 11 minutos de duração. E uma nota ainda para as vocalizações de Hetfield que, sem sair do registo habitual, conseguiu descobrir uns novos timbres, frescos e agradáveis.
“72 Seasons” é puro Metallica “vintage”. Dúvidas houvesse e bastariam os 77 minutos de duração para atestá-lo. Uma duração que levaria ao desespero qualquer produtor pop contemporâneo, mas que fará as delícias de fás habituados aos clássicos de “Master of puppets” ou “...And justice for all”.
Tal como as 72 estações dos humanos, ao longo destes 77 minutos, que passam bem depressa, as 12 músicas consolidam-se naquele que é provavelmente o melhor e mais consistente disco da banda desde o “Black album”.