Amijas, coletivo underground bracarense, lançou em abril o disco de estreia.
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“Ser dá tanto trabalho”, gritam extenuadamente as duas vozes – Júlia Braga e Vanessa Silva – de Amijas, na faixa “Mirone digital”, do disco de estreia homónimo do grupo. Mas, para este coletivo bracarense undergound, a sua forma de ser parece-lhes, na verdade, intrínseca. Os sete elementos que compõem a banda não forçam uma conexão, falam do que as apraz no dia a dia e, acima de tudo, parecem servir-se da música para expurgar os males da sociedade, dos mais mundanos, como a falta de uma sobremesa, aos mais estruturados, como a dor provocada por uma mamografia.
Uma forma de descrever Amijas e o seu novo trabalho é que soa a várias coisas e, no fundo, soa apenas a si mesmo. Num momento em que a originalidade parece tantas vezes parca, é refrescante ouvir um disco sobre o qual, para referência, temos de criar uma etiqueta própria. Vagueando por diversos estilos, que passam pela pop e pimba, é no rock e, sobretudo, no punk que melhor as podemos enquadrar. O barulho é a sua marca – mas não um barulho qualquer. A profundidade e mestria instrumental não fazem parecer que este é um grupo que ainda agora saiu do embrião.
Além das duas vozes, são compostas por Ana Gonçalves no baixo, Ana Luísa Sousa no sintetizador, Dora Vieira no trompete, Fernanda Rodrigues na guitarra e Marta Cardoso na bateria.A densidade dos detalhes instrumentais faze com que este álbum de estreia, “Amijas”, seja uma viagem de permanente tensão e emoção, com picos de “êxtase” em todas as faixas. Nas letras, este é um trabalho de viagem feita pelas vivências diárias de ser mulher. Da menstruação apelidada de “xixi vermelho” à ovação irónica à exploração laboral e à dificuldade financeira, Amijas estão na música para falar do que toca a muitas, mas é dito por poucos.