"Trilogia Filipe Seems" reeditada para assinalar 30 anos da primeira publicação em banda desenhada.
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Há bandas desenhadas - romances, discos, filmes... - que pela sua qualidade intrínseca, obviamente, mas também pela importância específica que tiveram no momento do seu lançamento e/ou do contributo que tiveram para a evolução do género em que estão inseridas, deveriam estar sempre disponíveis para aquisição, para fruição.
A "Trilogia Filipe Seems", de Nuno Artur Silva e António Jorge Gonçalves, que a ASA acaba de reeditar para assinalar os 30 anos da sua estreia, é um desses casos, principalmente no que respeita a "Ana", o álbum inaugural.
Publicada originalmente no jornal "Se7e", no início da década de 1990, tem como protagonista Filipe Seems, um detetive particular, que tem um gato com o qual passeia pelos telhados de Lisboa. Lisboa que, aliás, é coprotagonista da obra, como cenário da ação, numa visão futurista que inunda algumas zonas, transformando-a numa segunda Veneza.
Ambientado num futuro próximo, à data do seu lançamento, sensivelmente o nosso tempo atual, este álbum, o mais tradicional da trilogia, bem como os outros dois, aborda temáticas e levanta problemas que só mais tarde começaram a estar na ordem do dia, como a clonagem ou o terrorismo, apresentando também algumas curiosidades, como o uso de computadores ou de imagem digital, que davam a esta narrativa de tom policial, um toque de antecipação científica.
A narrativa arranca quando Seems é visitado por uma mulher, Ana Lógica, que lhe pede que encontre alguém, aparentemente ela própria, possivelmente uma gémea. Mergulhando na investigação, vão-se multiplicando as pistas, nem todas verdadeiras, a par de referências cruzadas, pensamentos e desvios, que obrigam o leitor a parar e pensar, numa história com muitas vias, realidades alternativas e mais perguntas do que respostas.
As técnicas atuais de impressão permitem hoje desfrutar do traço fino e personalizado de A. J. Gonçalves, como até agora só os seus originais possibilitavam, que brilha a grande altura na representação dessa tal Lisboa, entre o real e o onírico.