Nunca falta lume a Jorge Palma, nem quando chove a potes

Elas são Mariana e Matilde, as “Besties”, eles são os “Maridos” e têm impressa a hashtag #insensíveis nas t-shirts que envergam à entrada do Meo Marés Vivas. O festival celebra a 15.ª edição, no antigo Parque de Campismo da Madalena, em Vila Nova de Gaia, até domingo. E já abriu.

Essa “insensibilidade” faz com que eles, os "Maridos", continuem a passo largo, enquanto elas, as “Besties”, insistem em tirar uma foto no cartaz gigante alusivo à letra dos Da Weasel: “Vou levar-te para casa, tomar conta de ti”. 

Talvez estejam fartos de tomar conta delas, ou apenas ansiosos por entrar no recinto quadrado que cheira a eucalipto com pão com chouriço. O nevoeiro ameaça com chuva molha-tolos – e a chuva acabaria por se concretizar.

O merchandising  e as  luzes fluorescentes atraem os espectadores como mosquitos – são 40 mil, segundo a organização – que insistem em obter prémios das marcas, criando por vezes situações inusitadas: ficam de costas voltadas para o palco Moche, onde decorrerem já os concertos. 

Os Pomadinha abriram o festival de boxers, em tronco nu, e com rock instrumental. Não o poderiam ter feito de forma mais competente. São excelentes músicos e, nos dias que correm, ver alguém tocar de forma virtuosa é todo um prémio e quando nos contam em voz de desenho animado fábulas sobre nevoeiro, melhor ainda. 

Com o recinto pouco composto subiu Mónica Teotónio, que só conseguiu congregar atenções com a sua pop quando trouxe a palco o seu “padrinho” musical, João Só que entrou para tocar o êxito “Sorte grande”.  

A voz eterna de Palma

Ainda assim, os pratos fortes estavam por chegar, assim como a chuva. Jorge Palma, ataviado numa camisa tropical, chapéu de aba larga, apresentou-se no alto dos seus 73 anos e com voz absolutamente irrepreensível. Uma vetusta senhora de boina segura um cartaz à frente, colada às grades: “Palma, canta-me só”. 
Já é património etnomusical português, Palma, e se no início do concerto comentou “bem, estas pessoas cabiam todas na minha sala”, a meio do seu espetáculo o recinto já estava repleto – apesar da chuva consistente. 

Antes de entoar “Dá-me lume”, comentou que o tinha sempre – e está completamente certo. Há uma característica inequívoca de estrela, além de uma humildade desarmante, em que explica: “Tive de tomar um remédio para a tosse, mas está a fazer o efeito contrário”. Ninguém reparou. 

O cenário em vermelho com a filigrana de chuva a fazer de véu, enquanto Palma tocava a solo, sentado ao piano, “Estrela do mar” foi um dos grandes momentos deste primeiro dia. Mas “Bairro do amor”, “Frágil” e “A gente vai continuar” foram os temas que uniram os maiores coros da parte da plateia. 

Já “Encosta-te a mim” era como se o público tivesse sido subitamente atacado por um qualquer gás amoroso, em que se repartiam, abraços desequilibrados e beijos repenicados. 

Ao princípio da noite, já com várias pessoas de copo ao pescoço, como se fossem uma espécie de São Bernardo em missão de salvamento, coube aos Quatro e Meia entrar em cena.

Plateia derretida

São afinal seis, Os Quatro e Meia, são de Coimbra e reuniram-se para angariar fundos para uma academia de dança; na sua génese já congregam uma grande série de fãs. Um dos temas mais aclamados foi “Na escola”, do novíssimo álbum. 

Mas temas com “No metro”, “Olá solidão” ou “A terra gira” derreteram a plateia que se foi transformando, cada vez maior, cada vez mais jovem, com muitas crianças a sorrir. O resto da noite ainda haveria de trazer Slow J e as incontestadas estrelas do primeiro dia: Da Weasel. 

Cartaz de sábado e domingo

SÁBADO
Lua: 17.30 h, Moche Stage

Claúdia Pascoal: 18.30h, Palco Meo

Bárbara Tinoco e Carolina Deslandes: 19.45 h, Palco Meo

Pablo Alborán: 21.30 h, Palco Meo

J. Balvin: 23.30 h, Palco Meo

Karetus: 01 h, Moche Stage

DOMINGO 
Irma: 17.30 h, Moche Stage

Xavier Rudd: 18.30 h, Palco Meo

Fernando Daniel: 20 h, Palco Meo

The Script: 21.30 h, Palco Meo

Black Eyed Peas: 23.30 h, Palco Meo 

Kappa Jotta: 00.45 h, Moche Stage