
Nuno Coelho dirige atualmente a Orquestra Sinfónica do Principado das Astúrias
Leonel de Castro/Global Imagens
Um dos maestros mais requisitados da atualidade, Nuno Coelho antecipa ao JN os concertos no Centro Cultural de Belém (nesta sexta-feira) e na Casa da Música (segunda-feira), nos quais vais dirigir a Jovem Orquestra Nacional de Espanha.
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Aos 33 anos, e possuidor um currículo recheado em que pontifica a direção de orquestras em numerosos países ou a vitória no Concurso Internacional Cadaqués , Nuno Coelho afirma "estar apenas a começar", ciente de que a "carreira de um maestro é longa".
Atual diretor musical e maestro principal da Orquestra Sinfónica do Principado das Astúrias, o músico natural do Porto falou ao JN sobre o desafio de dirigir orquestras com realidades muito distintas entre si, frisando que o mundo da música clássica é profundamente internacional e conhece poucas fronteiras.
Depois de, nesta sexta-feira, atuar no Centro Cultural de Belém, na próxima segunda regressa à sua bem conhecida Sala Suggia, novamente na companhia da Jovem Orquestra Nacional de Espanha, que se encontra a comemorar os 40 anos de fundação.
Vai atuar na próxima segunda-feira com a Jovem Orquestra Nacional de Espanha, na Casa da Música. Para quem está familiarizado com palcos e orquestras de todo o mundo, há, apesar de tudo, um sentimento especial por tocar em casa?
Sem dúvida. Há uma relação muito especial com a cidade, o seu público, a própria Casa da Música e tantas memórias ao longo destes anos. Lembro-me da primeira vez que pisei o palco da Sala Suggia como violinista, com 16 anos, a tocar numa orquestra de jovens - foi um momento marcante e que nunca esquecerei. Tenho regressado como maestro para trabalhar com a Orquestra Sinfónica da Casa da Música, mas regressar desta vez para dirigir uma orquestra de jovens tem um simbolismo particularmente bonito.
Como apresentaria o programa dessa noite aos público que vai assistir ao concerto na Sala Suggia?
É um programa muito variado e interessante. Começamos com a abertura da ópera "William Tell" de Rossini que seguramente todo o público conhece e irá desfrutar. O bailado "Pássaro de Fogo" foi o primeiro grande sucesso de Igor Stravinsky e é uma das obras que marcou o início do séc.XX. Na segunda parte tocamos a monumental sinfonia "Eroica" de Beethoven, uma obra musicalmente riquíssima e com uma mensagem pessoal e política de esperança e união, muito relevante para os dias de hoje.
Ser um maestro jovem, apesar de um currículo recheado, é uma vantagem na hora de dirigir músicos também jovens, pertencentes à Orquestra Nacional de Espanha?
Há uma proximidade de idade que certamente ajuda, mas o mais importante é a mensagem musical que pretendo transmitir e a forma de trabalhar com os músicos. O respeito e a confiança são sempre os fatores mais importantes nessa relação.
É frequentemente convidado para dirigir orquestras de todo o Mundo. De que forma as diferentes culturas que encontra o obrigam a abordagens também distintas?
O mundo da música clássica é profundamente internacional e conhece poucas fronteiras. Cada orquestra é composta por músicos de várias nacionalidades, com diferentes escolas e backgrounds. Há obviamente diferentes culturas de trabalho em cada orquestra mas isso depende mais dos músicos que a compõem do que o país onde estão. Onde as diferenças se notam mais são em termos de escolhas de repertório (com preferência aos compositores nacionais de cada país) e nos horários de ensaios (em geral, menos dias de ensaio no Reino Unido e países escandinavos).
É maestro titular da Orquestra Sinfónica do Principado das Astúrias. Como tem sido a experiência de gerir um agrupamento musical tão numeroso, não apenas do ponto de vista artístico, mas também com o trabalho extra-musical que o seu cargo exige?
É um bom desafio para o qual julgo estar preparado neste ponto da minha carreira. Tenho a sorte de contar com o apoio dos músicos e da equipa de gestão da orquestra e estamos todos empenhados em dar o nosso melhor. É estimulante poder desenvolver as minhas ideias sobre programação e o papel que uma orquestra deve ter na sociedade.
Como tem visto a crescente afirmação internacional de músicos portugueses pertencentes à geração de que faz parte?
Tem sido um crescimento incrível e sustentável ao longo dos últimos anos. Já não é uma surpresa encontrar músicos portugueses nas melhores orquestras. É preciso garantir que o ensino da música em Portugal continua a ter as condições e investimento necessário para continuar a produzir estes resultados no futuro.
Se no plano individual tem havido muitos avanços e conquistas dos músicos portugueses, no plano dos agrupamentos esse reconhecimento é mais difícil?
É verdade. Salvo algumas exceções, é um trabalho de vários anos que requer um grande investimento em termos de pessoal, condições, perspetivas de trabalho a longo prazo e apoio à divulgação no estrangeiro.
Os últimos anos têm sido repletos de conquistas para si. Olhando para o que já alcançou e o que ainda pretende obter, o que diria?
A carreira de um maestro é longa e eu acabo de começar. Um músico tem de ter a humildade para estar sempre a aprender.
