Artistas com novos singles para pôr no repetidor: Girl in Red, Lola Young e TR/ST. Uma destas canções pode viciar.
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O amor é muito simples (tão simples que até mete nojo). Ela tem 24 anos, está apixonada por uma rapariga e canta: “Fumámos cigarros no telhado, tu estás tão linda, eu adoro esta vista, nós apaixonamo-nos em outubro, por isso eu adoro o outono”. E depois o loop do refrão: “Minha rapariga, minha rapariga, tu serás a minha rapariga”.
A voz dela é macia e melosa, há um tapete fofo de sintetizador sulfurador e por baixo tilintam guitarras como piscos de peito ruivo a pipilar. É o novo single “We fell in love in october”, da adamada Marie Ulven Ringheim, a Girl In Red, e vamos poder ouvi-la ao vivo em agosto no local ideal: deitados na relva tenra do Festival Vodafone Paredes de Coura. Ela disse ao “The Guardian” esta coisa primordial: “Se as minhas músicas puderem normalizar a homossexualidade, isso será uma coisa incrível”.
O amor é um tumulto (e é uma besta paradoxal). Ela canta isto: “Tu podes vir cá ter, podes-me fo*** como deve ser, puxas-me o cabelo, cantas-me canções de embalar? Podemos fingir que estamos apaixonados e eu esquecerei todas as coisas horríveis que tu me disseste. Podemos fingir que estamos apaixonados?”, repete ela debaixo do baixo pulsante e da guitarra a roncar, a voz é uma língua de piercings, uma língua que sabe perfurar, para depois ela se desarmar: “Podemos fingir que estamos apaixonados, até eu te dar um soco e tu me chamares porca outra vez”. E depois repete o seu bestialógico refrão: “Eu queria que tu morresses”.
Ela é Lola Young, é muito nova como a norueguesa Ringheim, mas é londrina e tesa e a sua verdade no novo single “I wish you were dead” é um estuário a arder. Imaginemos um novo ser todo feito de força pulmonar, num misto exógeno de Lily Allen, Amy Winehouse, Kae Tempest e talvez também Adele - é isto Lola Young e é colossal. Alguém a pode trazer cá? É urgente.
O amor nunca é aborrecido (se não formos pessoas aborrecedoras). Surpresa: os TR/ST (lê-se “trust”, isto é, “confiar”), projeto electro-gótico do canadiano Robert Alfons, têm uma nova versão de “Being boring”, a canção pop perfeita dos Pet Shop Boys - e que é uma elegia à amizade (e a amizade é a forma mais venerável do amor, não é?) -, e que cita aquela citação existencial de Zelda Fitzgerald que nos diz que somos aquilo que semeamos: "Ela não permitia que a aborrecessem, sobretudo porque ela não era aborrecedora".
O single é alienígena e benévolo, é sexy, é doce, dulcíssimo como o sangue dos puros (e o sangue dos bois), é estranhamente dançante, é muito viciante. É o primeiro petisco do novo álbum dos TR/ST que Alfons está a preparar e que diz que vai ser uma coisa “maior, melhor, linda e toda enterrada em lama”.