Nome central da Nova Dança Portuguesa mostrou quatro obras suas de repertório, no Porto, em eventos distintos
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Em 2021, João Fiadeiro doou todo o seu arquivo, um dos mais fulgurantes das artes performativas, construído durante 30 anos, à Fundação de Serralves. Para assinalar o ato desta figura central na Nova Dança Portuguesa (movimento que emergiu nos anos 1980 e 1990, marcando uma renovação profunda no panorama da dança contemporânea em Portugal) apresentou sábado à noite a performance “Sensibilidade às condições iniciais” no átrio do Museu. Uma iniciativa que o artista pretende que seja “anual para mostrar que o arquivo está vivo”.
A acompanhar Fiadeiro esteve Márcia Lança, artista com quem colabora há mais de 20 anos. Os dois aplicaram os princípios seminais da obra do bailarino e coreógrafo e da sua composição em tempo real, num espaço preparado previamente pelo arquiteto João Gonçalo Lopes. A metodologia valoriza o improviso e a tomada de decisões instantâneas, refletindo sobre a relação entre corpo, espaço e tempo. Feito entre dois, ou por intérpretes acidentais, como um visitante do Museu que acabou por entrar na performance, o jogo ganha outra dimensão.
Tempo, ação, espaço
Como Fiadeiro viria a admitir numa conversa após o espetáculo, “muitas vezes entre nós não é claro quando queremos dizer que sim ou não a determinada ação, muitas vezes a premissa é já não ou ainda não”. O caráter lúdico da obra ampliou-se como um invulgar jogo de jenga, montado à escala humana com cadeiras e desmontado como um micado, em que podemos considerar o corpo de João Fiadeiro como uma das peças.
Apesar de o bailarino ter começado a sua formação em dança clássica, rapidamente enveredou pela dança contemporânea, estudando com importantes criadores internacionais. Em 1990, fundou a sua própria companhia, a Re.Al, que se tornou um dos polos fundamentais para a experimentação artística.
Mas as suas obras vão além da dança, cruzando-se com as artes visuais e o teatro, contribuindo para um diálogo internacional sobre a performance. Prova cabal foi a apresentação de “Self(ish) portraits”, trabalho de 1995 interpretado por Andrei Bessa, que encerrou também no sábado à noite o 24 Volts - Encontro internacional de artes performativas, patente três dias na CRL, no Porto. “Ça va exploser” e “I am sitting in a room different form the one you are now”.