Ai Weiwei terá grande retrospetiva em Lisboa que inclui obras inéditas produzidas em Portugal.
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É uma exposição com quatro mil metros quadrados e uma das maiores retrospetivas de sempre do artista e ativista chinês Ai Weiwei, que irá ocupar a Cordoaria Nacional, em Lisboa, a partir de 4 de junho de 2021. Terá curadoria de Marcelo Dantas, brasileiro que tem trabalhado com Weiwei desde 2015. Juntos, já fizeram seis exposições, no Brasil, Chile e Argentina, conseguindo "bater recordes mundiais de visitantes", revelou Dantas ao JN.
"Rapture" será uma exposição dual, "onde se unem as asas do lado carnal, ligado a uma dimensão terrena" e "engajada com o ativismo do sequestro dos direitos e liberdades", e do "lado espiritual, ligado ao transcendente, à cultura, ao onírico e à fantasia", salientou o curador. Mas haverá também muitas obras inéditas, a partir de tradições portuguesas.
"Fiquei fascinado com os materiais e técnicas tradicionais usados em Portugal", explicou Weiwei, de 63 anos, eleito este ano como o artista mais popular do Mundo em 2020 pela publicação "The Art Newspaper", ontem, durante a conferência de Imprensa de apresentação da exposição. "Portugal é um país muito belo, com uma magnífica natureza e uma ideologia clara", disse o ativista, que está a produzir em vários ateliês portugueses novas peças, trabalhadas em materiais como "o azulejo, a cortiça, a pedra e os tecidos", detalhou Marcelo Dantas.
De Berlim a Lisboa
Weiwei tem passado várias temporadas em Portugal. Além de ter adquirido uma propriedade no Alentejo, com produção de tangerinas, está tão empenhado na sua estadia que já conduziu duas vezes de Berlim até Lisboa, "sempre com um sorriso na cara", para fintar a pandemia, que atrasou alguns planos da produção das novas obras.
A grande fatia da retrospetiva conta com trabalhos icónicos produzidos nos últimos 30 anos, como "Snake Ceiling", a cobra gigantesca feita de mochilas, uma alusão às crianças que morreram no terramoto de Sichuan, em 2008. Outra das obras patentes será "Law of the journey", o famoso barco insuflável de 60 metros com 300 refugiados sem cara.
Sobre a ligação entre a China e Portugal, o artista admitiu que "a influência chinesa em Portugal é muito forte, o que deve ser bom para ambos os países", mas advertiu que "são duas sociedades muito diferentes". E chamou a atenção para o 5G da Huawei, "que é controlada pelo Estado, e funciona quase como um tipo de empresa militar, que pode obter todo o tipo de informações sobre os indivíduos".
Artista e acérrimo defensor dos direitos humanos
Nascido em 1957, em Pequim, e filho do poeta dissidente Ai Qing, viveu exilado no noroeste da China. Há décadas que faz trabalho diversificado na arte contemporânea, mantendo sempre uma posição crítica sobre a China, em questões de direitos humanos. Em 2011, esteve preso durante 81 dias, na China, sem acusação formada, e depois impedido de sair do país durante quatro anos. Vive na Europa desde 2015.