Várias famílias acorreram em força ao renovado centro de cinema portuense para recordar e partilhar com os mais pequenos a magia do que foi o programa infantil “Os amigos do Gaspar”.
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Para celebrar o primeiro aniversário, o Batalha Centro de Cinema (BCC) programou sessões especiais, divididas pela metade durante este fim de semana, que apelaram à nostalgia dos portugueses.
As sessões de sábado tiveram uma cereja no topo. Não só por ser a estreia da curta-metragem “Os amigos do Gaspar: uma reunião na cidade”, mas principalmente porque marcou presença Sérgio Godinho, com uma participação especial, ao vivo.
Uma presença que se deve ao facto de este filme musical, realizado por Duarte Coimbra, ter sido criado a partir do álbum “Sérgio Godinho canta com os amigos do Gaspar”, editado em 1988. O disco eternizou também temas memoráveis, como “É tão bom” e “Canção dos abraços”.
Como primeiro impacto, ao entrar na sala de cinema, era palpável o entusiasmo dos adultos, que contagiou rapidamente os mais pequenos. Quando as luzes apagaram e o grande ecrã brilhou, fez-se um silêncio expectante, equilibrado por todos os cantos da sala.
Uniram-se assim dois ícones da cultura portuguesa, um como emblemático edifício da cidade do Porto e o outro que regressa após mais de 30 anos para recordar o programa infantil, que marcou o imaginário de uma geração, desta vez para uma aventura na invicta.
O filme começa com uma pauta musical, onde, em vez de notas, lê-se “algures pela cidade do Porto”, com a Ponte da Arrábida a erguer-se, ao longe. Para os portuenses, não se tratou apenas de nostalgia, podendo ser notável o brilho na plateia por reconhecerem as ruas.
Composto por 16 temas, o álbum de Sérgio Godinho dá vida e corpo a este filme, transparecendo cada seguimento em pequenos videoclipes, com muito pouco diálogo. Em cada música participaram personagens icónicas da série, por vezes aparecendo em plano todas simultaneamente ou no centro do holofote.
Quando ecoou “Dona Felismina e a sua loja”, o BCC vibrou com gargalhadas nostálgicas. Quando a primeira nota suou, o compasso do bom humor marcou o ambiente para o resto da sessão e a canção retrata-o perfeitamente. “Felismina és para todos e feliz fazes quem cá entra”.
Entre os videoclipes, a composição deste filme explora não só o programa infantil, como também a cidade em que se instalou. Vê-se “Os amigos de Gaspar” a festejar o São João e Marta a bater alho-porro na cabeça de Gaspar, como dita a tradição.
Contudo, pelas ruas do Porto não se vê apenas “Os amigos de Gaspar”. Encontra-se a evolução do Mercado do Bolhão e o movimento, mais turístico que local, dos marcos da cidade. Mais impactante ainda ocorreu inesperadamente quando as estátuas da Alameda dos Plátanos, no Jardim da Cordoaria, ganharam vida metaforicamente.
De apenas imagens estáticas, risos contagiantes animaram toda a plateia, de uma forma simples, aludindo ao próprio nome destas estátuas “Treze a rir uns dos outros”. O que apelou à imaginação que “Os amigos do Gaspar” tanto ofereceram, dando vida à invicta.
Porque o Porto respira e transpira história, relembra-se o passado num lugar que tanto prega pelo futuro, mas não se despega das suas fundações. Tal como a cidade deixa uma marca em todos que lá passam, “Os amigos do Gaspar” marcaram uma geração e quem sabe, pelo sucesso deste filme, não poderá marcar as seguintes.