
Contorcionistas da Mongólia apresentam número de risco
Foto: Leonel de Castro
Coliseu Porto Ageas apresenta sessões diárias do novo espetáculo até ao dia 4 de janeiro.
O Circo de Natal do Coliseu do Porto continua a ser um ritual de passagem anual, uma promessa cumprida entre gerações, um lugar onde a cidade se reconhece no espanto. Até 4 de janeiro, a pista da emblemática sala transforma-se novamente num território de suspensão do real, onde o risco, a destreza e a fantasia coexistem com uma precisão quase musical.
A edição de 2025 assume, desde logo, uma ambição narrativa clara. Ao convidar Marta Pais Oliveira, vencedora do Prémio Revelação Agustina Bessa-Luís, para escrever uma história original centrada na figura do apresentador de circo, o Coliseu escolhe olhar para dentro do próprio mito. Cícero, essa voz que antecede o assombro, surge como maestro de emoções, figura liminar entre palco e plateia, acompanhado pela mãe, presença simbólica que ancora o espetáculo na memória, na origem e no afeto, ainda que em alguns momentos seja um pouco dilatada. A música original de Bruno Pernadas acrescenta densidade e respiração contemporânea a esta viagem, criando uma paisagem sonora que a envolve e nunca se sobrepõe ao risco.
Mas o circo é, antes de tudo, corpo. E aqui ele impõe-se com exuberância: a barra russa desafia a gravidade com poética violência; a espiral aérea roda sobre as cabeças do público como um relógio suspenso; a roda cyr desenha círculos hipnóticos aos nossos pés; o cubo manipulado exala força e virtuosismo; o clowdswing provoca aquele frio na barriga que lembra porque é que ainda precisamos de sentir medo; os tecidos elevam o gesto à graça suspensa.
A diversidade de artistas, vindos da Mongólia à Austrália, da Polónia à Argentina, de Portugal ao centro do Mundo, confirma a vocação internacional de um espetáculo que sabe equilibrar tradição e contemporaneidade sem nostalgia estéril.
Circo Coliseu Porto
Hoje: 21 horas
Sábado e domingo: 14 horas

